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1 ano depois da enchente, comerciantes ainda tentam se recuperar

Um ano depois do temporal que deixou a área central de Poços de Caldas debaixo d água, o Poçoscom.com voltou aos locais onde registrou o drama de famílias e comerciantes atingidos pela enchente. Passados exatos 365 dias, muitos, principalmente os comerciantes ainda tentam se recuperar do prejuízo causado pela chuva da noite de 19 de janeiro de 2016. Uma noite que muitos não conseguem esquecer.

Há um ano estivemos na loja de artefatos e cortinas Itapoã, uma das mais afetadas pela inundação. Na ocasião, funcionários e proprietários faziam a limpeza do que sobrou da loja e tentavam recuperar alguma mercadoria que não fora levada pela correnteza, uma vez que o córrego Vai e Volta transbordou e passou por dentro da loja, carregando praticamente toda mercadoria, inclusive o estoque.

Interior da loja foi devastado pela enchente - foto arquivo Pocoscom.com
Interior da loja foi devastado pela enchente – foto arquivo Pocoscom.com

Hoje o prédio onde funcionava a loja está sendo reconstruído, e depois de 42 anos no mesmo imóvel, a Itapoã funciona em um espaço bem menor, quase que de frente do antigo endereço na Rua Junqueiras. Os proprietários ainda não se recuperaram do prejuízo na ordem de R$ 600 mil reais, isso sem falar da expectativa de vendas com o estoque que tinham. Os donos tiveram que arcar com tudo sozinhos, pois o seguro não cobriu os danos causados pela enchente.

Hoje a loja funciona em um espaço bem menor
Hoje a loja funciona em um espaço bem menor – foto Roni Bispo/Pocoscom.com

Em meio à crise financeira e os custos que tiveram para recomeçar, segundo uma das proprietárias, Patrícia Ramos Borsato Silva, eles tiveram que dispensar 5 dos 12 funcionários. O maquinário para confecção de cortinas, a parte contábil hoje funcionam em outros locais, devido à falta de espaço físico. Passado um ano, o sentimento ainda é de tristeza. “A gente fica muito triste com tudo que acontece, e também abandonada, a gente não teve nenhuma ajuda. O seguro não cobriu os prejuízos. Foi só falado que ia parcelar IPTU conta de luz e de água, a prefeitura e a associação comercial iam tentar recursos no BNDS e nada aconteceu. Por muitos anos geramos impostos e emprego e não tivermos nenhum retorno”, desabafou a comerciante.

Ali perto, vizinhos de parede e também do córrego já do lado da Rua Assis, nos fundos da Casa das Meias, que também viveram a mesma situação, dona Cidinha que tem um salão há 9 anos perdeu praticamente tudo, apenas o lavatório que era chumbado no chão não foi levado pela água. Para piorar a situação, além dos objetos de trabalho, dona Cidinha conta que perdeu cerca de 40 a 50% da clientela, que se afastou com medo de contaminação por causa da água que invadiu o local. Hoje com tudo esterilizado, ela espera que a freguesia possa retornar.

Cidinha ainda teme por uma nova enchente
Cidinha ainda teme por uma nova enchente

O prejuízo chegou a R$ 15 mil reais. Com ajuda de amigos, aos poucos ela vem se recuperando das perdas. “Desde o dia da enchente eu fico muito apreensiva quando ameaça chuva. Hoje mesmo eu estou preocupada porque já deu na previsão do tempo que vai cair chuva forte”, disse alarmada a cabeleireira.

Continuando o reencontro com os pequenos comerciantes e empresários voltamos também o Teatro dos Bonecos. Na época foram perdidos mais de R$ 50 mil reais em equipamentos de som e luz, 200 bonecos, além de figurinos e textos.

Olhando para o córrego, Augusto parecia não acreditar no que tinha acontecido - foto arquivo - Pocoscom.com
Olhando para o córrego, Augusto parecia não acreditar no que tinha acontecido – foto arquivo – Pocoscom.com

O olhar desolador do diretor do teatro, Augusto Noronha, para o córrego que já tinha voltado ao normal demonstrava o sentimento de muitos que naquela noite perderam praticamente tudo, depois de anos de muito esforço e trabalho.

Teatro reergue e tem o circo com uma das atrações
Teatro reergue e tem o circo com uma das atrações – foto Roni Bispo/Pocoscom.com

Hoje o teatro se reergueu. A reinauguração foi em setembro do ano passado e conta com uma nova atração a Trupe Circus Life, um espetáculo de variedades circenses que segue a linha do Circo Clássico com números virtuosos aéreos e de solo, em diversos aparelhos como lira, trapézio e tecido, além de apresentações cômicas de palhaços que remetem ao lúdico e a alegria do picadeiro.

Vida nova também para a cabeleireira, Damares Neofit, que por coincidência ou não esta semana reabriu o salão quase um ano depois da enchente ter destruído tudo. Foi pelo salão dela que a água do córrego entrou depois de derrubar a parede e a atingir os outros imóveis. Um prejuízo de R$ 10 mil reais.

Salão foi reaberto quase um ano depois da enchente - foto Roni Bispo/Pocoscom.com
Salão foi reaberto quase um ano depois da enchente – foto Roni Bispo/Pocoscom.com

Ao longo deste período ela vinha trabalhando de forma provisória em um cômodo do lado de cima do salão. Foi quase um ano de reforma para que ela pudesse ocupar novamente. Com uma janela instalada na parede reconstruída dá pra ver o córrego Vai e Volta bem de perto. E mesmo com ele subindo na tarde desta quarta-feira, 18, por conta da chuva, a cabeleireira não se deixa abater pelo acontecido na noite do dia 19 de janeiro de 2016.

Chuva fez o nível do córrego subir - foto Roni Bispo/Pocoscom.com
Chuva fez o nível do córrego subir – foto Roni Bispo/Pocoscom.com

Para ela foi uma provação que precisava passar para superar as dificuldades e continuar tocando a vida. “Eu não vivo de passado, pra mim o que aconteceu já ficou para trás. Minha vida segue daqui pra frente. Aquilo foi uma prova que tínhamos que passar. Vamos seguindo em frente com esperança num novo dia”, falou de forma serena a cabeleireira que com ajuda de amigos e clientes está se reerguendo.

O mesmo aconteceu com o empresário Celso Frizon, proprietário da oficina Hércules localizada na Rua Capitão Affonso Junqueira, outro ponto em que o córrego corta o centro da cidade e de onde veio o grande volume de água naquela noite.

Oficina está recuperada depois de ficar quase 60 dias fechada após a enchente - foto Roni Bispo/Pocoscom.com
Oficina está recuperada depois de ficar quase 60 dias fechada após a enchente – foto Roni Bispo/Pocoscom.com

A água chegou a 1,80 m dentro da oficina e destruiu praticamente tudo, ferramentas, alinhadores, balanceamento, 15 veículos, sendo que 4 estavam segurados, mas o restante a própria oficina em acordo com os proprietários fez os reparos necessários. A oficina precisou ficar fechada por 54 dias, para a recuperação dos veículos atingidos e também da própria oficina. Foi um ano bem difícil em termos financeiros, uma vez que o prejuízo chegou aos R$ 300 mil reais.

Celso se diz ainda muito apreensivo quando chove, principalmente à noite, ele e o irmão se revezam no monitoramento do córrego, uma vez que não tem como deixar a oficina vazia, já que os veículos levam de 2 ou mais dias para serem consertados. O empresário critica a forma com que o córrego foi limpo. Para ele a calha ainda não foi totalmente liberada de assoreamento e lixo e isso pode ser temeroso. “As chuvas agora são torrenciais, fortes e quando acontece à noite, geralmente a gente vem pra oficina e vê como está o rio. Na época foi uma chuva muito grande, muitos milímetros de chuva em pouco tempo. Acho que qualquer ribeirão iria subir. Se estivesse limpo a consequência seria menor. O rio não foi limpo e a gente fica ainda mais apreensivo. O novo secretário de obras nos procurou e disse que em abril vai colocar as máquinas no córrego e fazer com que a vazão volte como era antes,” destacou o empresário.

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