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Cultura marca o dia do Índio em Caldas

O dia do índio foi marcado por manifestações culturais na comunidade Xucuru Kariri de Caldas MG.
Faltando apenas três dias para se comemorar os quinhentos e dezessete anos do “descobrimento” do Brasil, oficialmente o primeiro contado dos nativos da chamada ilha de Vera Cruz, com os não índios da frota de Cabral, o dia de hoje naquela comunidade, foi marcada por danças como Toré e, outras manifestações culturais de resistência que mais de meio milênio de opressão e tentativas de enculturação não conseguiram destruir.
Coordenado pelo jovem cacique Jao, o dia do índio, que se comemora em dezenove de abril foi um dia com aparência festiva, mas também um dia para que as escolas, emissoras de comunicação social e a comunidade que se fez presente, conhecessem um pouco mais da cultura de um povo que continua na luta do dia-dia tentando transmitir, especialmente para as crianças, um pouco do que foi a vida dentro da tribo Xucuru Kariri.
Vinda da cidade de Palmeira dos índios, Alagoas, há dezesseis anos, o grupo chegou à vizinha cidade mineira para habitar um espaço meio rural pertencente ao governo federal, onde no passado funcionava a Embrapa.
Segundo contava o velho cacique José Sátiro do Nascimento, falecido em dois mil e quinze, depois de perambular pelos mais diversos lugares que se mostraram muito estranhos para a vida de seu povo, foi apresentado o atual local que, uma pequena reserva com dezenas de casas, escola, posto de saúde, que já ficou conhecida como Aldeia dos índios Xucuru kariri.
Dizia o Cacique que “quando a terra de Nosso Senhor não dá a terra de Nossa senhora dá” e para ele, Caldas é a terra de Nossa Senhora e seria sua última morada. Foi o que aconteceu.
Ele faleceu a pouco mais de um ano e está sepultado em Caldas-MG.
A população não é grande. Há período de aproximadamente duzentas pessoas e período em que tal número é menor, especialmente no frio, pois a localidade chega a temperaturas bastante baixas durante o inverno. Há na comunidade dezenas de índios com idades bastante avançadas e que não se adaptaram ao período frio.
O espaço, mesmo que adaptado, tem uma pequena mata, onde eles realizam seu Ori-Curi, momento de fé que só é realizado ou assistido pelos próprios índios. Mesmo os cânticos e orações realizados na mata são mantidos em segredo e com muito respeito, espacialmente pelos mais velhos. Como quase toda comunidade indígena, há uma mistura de crenças e mitos da própria cultura nativa que se associam a religiosidade cristã. Sempre buscando o aconselhamento dos antepassados através de cânticos e orações.
Sua cultura religiosa não se fecha em si mesma como ocorre com outras denominações. Nas procissões da semana santa passada, os índios fizeram questão de participar, indo para a cidade vizinha com suas tangas e cocares, sempre mostrando interesse de se integrar ao não índio.
No posto e Saúde a comunidade é assistida por médicos da medicina tradicional, mas eles não dispensam as plantas e remédios naturais, parte de uma cultura medicinal que é transmitida de geração para geração.
Uma das índias mais idosas, “Vó Flora”, é uma espécie de Pajé, já chegando aos noventa anos, mantem em seu quintal uma pequena farmácia de plantas e muito conhecimento sobre como e quando utiliza-las.
O povo Xucuru Kariri de hoje, dá bastante importância à cultura e educação e, em datas especiais ou atendendo solicitação de escolas e faculdades, não mede esforços para apresentações culturais realizando até viagens pela região levando para o não índio conhecer um pouco da cultura mais originária. Também recebem grupos previamente agendados ou realizam palestras e participam de debates sobre temas de interesse, muitos dos quais realizados na própria comunidade.
Na escola de ensino fundamental existente na “aldeia” há além das matérias da grade oferecida ela superintendência regional de educação, matérias exigidas pelos próprios índios como disciplina de uso do território, que engloba aprender a plantar e colher, aula ministrada por um professor indígena.
Aula de cultura também ministrada por um integrante da comunidade e até estudo que busca recuperar o dialeto falado no passado para antigos antepassados. O atual cacique é também o professor de língua. Ele busca principalmente através dos mais idosos, trazer para as crianças a “língua”, ou melhor, dialeto, brado, já considerado como morto. Porem, ainda no dia do índio notávamos com que naturalidade as crianças enquanto brincam entre si falam, hora português, ora pela sua própria língua indígena. Embora que o cacique busque transmitir a cultura originária ele não perde a atenção para a outra realidade: os jovens índios também tem que estar sendo preparados para a sequencia escolar e para a convivência com a comunidade não índia.
Tão interessante é o processo de educação na comunidade que a representante da superintendência regional de ensino a pedagoga Beatriz Sales fez pós e está fazendo mestrado sobre educação diferenciada em pesquisas realizadas na escola indígena

Diferente também do pensamento da grande maioria não índia, os índios trabalham e muito.
Além dos artesanatos indígenas, dezenas deles saem diariamente para trabalhar como agricultores, motoristas, etc.
Há índias que fizeram curso na UFMG de educação indígena.

O dezenove de abril passado não foi diferente, escolas, turistas, veículos de comunicação social e a própria comunidade se fez presente a comunidade indígena respondeu com um dia de cultura e acolhimento, apresentando além das danças, jogos e brincadeiras que envolviam crianças e adultos.
Aliás, os jogos indígenas 2017, uma espécie d e olimpíadas indígenas, vão acontecer durante o mês de setembro próximo na comunidade Xucuru Cariri de Caldas-MG.

A realidade atual desse grupo indígena não pode ser generalizada para os demais indíos.
Quinhentos e dezessete anos depois da “descoberta” do Brasil que antes era todo indígena, hoje, a grande maioria vive realidade bem diferente. No próprio município de Caldas há outro grupo indígena ocupando outra área tentando ter a mesma sorte do povo do cacique Arcanã de Aruanã: Encontrar em um território que antes era todo seu, um pedacinho de terra para se tornar a última morada.

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One thought on “Cultura marca o dia do Índio em Caldas

  • Cleuza Maria Godoy Silva

    Gostaria de saber se pode visitar a aldeia na época das olimpíadas. A escola Cônego Artur de Campestre MG quer levar alunos para assistir e registrar as olimpíadas indígenas.

    Resposta

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