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GGN – 50 ANOS (O Encontro em Poços de Caldas)

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                Se as pessoas espantam-se com o arrebatamento político que se vê hoje – Lulopetistas versus o Resto – não fazem ideia de como as cabeças andavam quentes nos anos 60.

                Em Poços de Caldas, a juventude andava muito politizada. Era muito atuante a UEC – União Estudantil Católica, com uma visão política inicial ainda bem conservadora e anterior ao Concílio Vaticano II. Também tínhamos entre nós a JEC – Juventude Estudantil Católica, discretíssima, mas muito influente no nascente movimento estudantil, fenômeno que acontecia em todo o Brasil.

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O mundo saia da II Guerra e se vivia em plena Guerra Fria – democracias versus o império soviético. O anti-comunismo  já era há muito tempo um dos “inimigos” mortais da igreja de Roma, só suplantado pelo Protestantismo e pelo Espiritismo. Hoje, esse espírito  triunfalista seria até espantoso, mas o ecumenismo só começou a renovar o mundo após o Concílio Vaticano II, com o saudoso papa João XXIII.

                Em 1959, Fidel Castro entrou triunfante em Havana, à frente das tropas guerrilheiras vitoriosas. Laika, o primeiro animal vivo e comunista a ir ao espaço, emprestava seu nome a muitos animaizinhos por esses brazis a fora. Os países que haviam sido colônias dos europeus estavam em plena efervescência pela sua libertação e criação de novas nações soberanas. Neru, no Egito e Ghandi, na India, encantavam o mundo. JK inaugurou Brasília e a modernidade brasileira em 1960. A pílula anticoncepcional surgiu nos EUA.

                                                               GGN EM POÇOS

                Em Belo Horizonte, 1962, os padres jesuítas do Colégio Loyola, ou alguns deles pelo menos, decidiram entrar na briga pelas mentes e corações dos jovens. A igreja ultra conservadora prosperava em Minas Gerais, onde já agia a TFP (Tradição, Familia, Propriedade) com práticas violentas e ideias monarquistas aristocráticas.

                Padre Americo Maia, fundador do GGN em Belo Horizonte, teve entre seus seguidores uma jovem chamada Dilma Roussef. Ele veio a Poços fundar uma filial do movimento. Dilma desconverteu-se e  foi integrar os quadros guerrilheiros do Colina -0 Comando de Libertação Nacional, um dos muitos grupos de ultra esquerda armada guevarista que se levantaram contra a ditadura militar instalada em 1964.

                Não se sabe direito como é que o padre Maia acabou com os costados em Poços de Caldas. O colégio São Domingos, das irmãs dominicanas, era o bunker da esquerda católica, tendência que aos poucos passou a  modernizar , através da JEC local, a UEC que seria extinta deliberadamente em 1963 (4.a Semana do Estudante Secundário) para a refundação da UME – União Municipal de Estudantes. Era o espírito ecumênico entre nós, influencia politica da também recém criada  AP – Ação Popular, organização de centro-esquerda oriunda dos movimentos jecistas católicos (JAC, JEC, JOC, JUC), com pessoas como Betinho na liderança. . .

                Uma das teorias é que as dominicanas resolveram “encampar” o GGN belo-horizontino, em virtude do seu impressionante apelo de massa, ou seja, ação em grupo e não em células clandestinas como a JEC. João XXIII era o Fidel Castro inspirador dos movimentos católicos, cada vez mais politizados e francamente contrários ao regime militar.

                Como já disseram alguns dos integrantes do movimento, os jecistas achavam que era hora de “sair das catacumbas” para uma ação social ampla.  Não deu outra – o GGN passou a aglutinar os jovens, especialmente dos colégios Marista e São Domingos. O Serrote, bairro muito, pobre naquela época, passou a ser o alvo preferencial assistencialista da ação social do grupo. No seu auge, estima-se em mais de 80 o total de seus membros.

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                No ultimo dia 10 de dezembro, os antigos gegenistas realizaram em Poços de Caldas seu primeiro Encontro Anual, após 50 anos. Os já falecidos foram alvo de tocante homenagem. Risos, choros, musica e muitas memórias da de uma juventude altruísta, ou  omo alguns a denominam: “geração generosa”.

Poços de Caldas / 13 dezembro 2000 e DZ6.

José Roberto da Silva

Jornalista e escritor.

 

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