LA LA TRUMP
Eis um filme horrorshow. O vilão é o palhaço que dança oculto no túnel do trem fantasma do parque de diversões, bronzeado artificialmente, com topete de calopsita. Candidato pronto para o impeachment, Trump (blergh) encarna o tema da Bienal de Arte de SP – 2016: Incerteza Viva. É um blefe perigoso.
No catálogo da mostra, o então ministro da Cultura, Marcelo Calero, alerta para o risco de se reagir com intolerância e “discursos de ódio” às incertezas geradas pelas transformações do mundo. Contra esse tsunami do medo, a arte como ato civilizatório.
Cadê aquele nosso otimismo com a “Era de Aquarius”? Neste 17.º ano do Milênio, ventos do passado sopram sobre nossas cabeças perplexas. Eles reagem às mutações da zoosfera humana e se alimentam da exclusão e erguem muros/fronteiras físicas e ideológicas. Eles são reacionários no sentido dos anos 60.
Sua logística política xenófoba pode blindar, mas não nos municia para construir o futuro com os dons do Humanismo construído a sangue por nossa história Ocidental – as virtudes liberais republicanas e a busca da igualdade na social democracia; a tolerância com as minorias; a solidariedade cristã e o primado da Razão.
Esses ventos assustam. Eles exumam as trevas nazistas, o fundamentalismo agora centenário dos Gulags soviéticos, o elitismo decadente das monarquias e a arrogância imperialista dos velhos trusts. Impedem a reflexão sobre o novo mundo que se ergue à nossa revelia – um hiper capitalismo que aponta um “modo de produção digital“.
Nesse novo mundo, conceitos como “operário”/“trabalho humano”, “fábricas”, “energia fóssil” não são mais explicativas/estruturantes. Esgotou-se o Acordo de Yalta. Às distopias – mega cidades devastadas por hordas de desempregados liderados por ideologias populistas – devemos opor novas utopias sob ética global sem renegar a tecnologia, mas domá-la sob um novo Humanismo.