DiversosOpiniãoRoberto Tereziano

Ensina-me a viver.

Sluis

De tempos em tempos sinto que sou assaltado por estranhas emoções não condizentes com o comportamento dos seres  de nossos dias. Por isso acabo sendo dominado por dívidas e indecisões.

Pergunto-me até se deveria estar passando para o papel e para as demais pessoas tais inexplicáveis comportamentos.

Afinal de contas escrever para quem? É mais provável que não exista gente para ler.

Aliás, gente e ler são também palavras gastas que não fazem mais parte do dia-dia das pessoas.

Pessoas… amizade… confiança… lealdade… quantas palavras em desuso

Curioso… estou estranhando que você esteja suportando o meu monologo pois é muito difícil em nossos dias encontrar pessoas dispostas para nos ler, para nos ouvir. E quando isso acontece ficamos perdidos e perplexos. Queremos falar de todos os assuntos de uma só vez.

Bem, eu falava de minhas emoções e de meu comportamento, se bem que isso também não se trate de coisa usual pois nosso costume agora é falar da vida e dos defeitos das outras pessoas, talvez para ocultar as nossas próprias falhas.

Mas voltando ao meu mundo de dúvidas chego a perguntar me perguntar se estou no meu raciocínio correto. Se minha forma de agir ainda é perfeita, ou se parei no tempo e no espaço. Ou quem sabe… não sou devidamente inteligente para me comportar como pessoas de nossos dias.

Vivemos hoje, se é que existe vida na atual forma de ocupar o espaço do planeta, demasiadamente preocupados com as forma de ganhar mais dinheiro, de comprarmos o melhor carro, ou galgarmos o lugar mais importante na empresa, que frequentemente nos esquecemos das pequenas coisas, detalhes sem maior importância como as boas amizades, o sorriso sincero e os verdadeiros apertos de mãos.

Não sabemos mais parar para contemplar a beleza de uma flor ou para ouvir o canto harmonioso de um pássaro.

Aliás, também as borboletas e pássaros não existem mais ou talvez as pessoas nem as notem.

 

O colorido dos campos e a suavidade do mundo deram lugar as apoteóticas estruturas de concreto monocromático.

Tudo passou a ser frio, solido, mecânico, eletrônico, cibernético, virtual, artifícial

Os tempos mudaram. A violência e as guerras passaram a ter mais importância que as boas ações.

Em meio a tudo isso, ainda pairam sobre nós as ameaças de uma guerra nuclear que nos marcariam para sempre com um câncer incurável ou, exterminaria com toda a espécie. Resta ainda uma tal bomba de nêutrons que eliminaria tudo que é vivo. Se é que estamos vivos.

Nem mesmo as estrelas são as mesmas ou irradiam o mesmo brilho de outrora pois até no espaço cintilante, os homens “inteligentes’ com suas maquinas de fabricar extermínio, conseguiram  colocar pontos de ameaça e terror.

E o que menos entendo é que agora, nem os lideres das chamadas superpotências, sabem o que fazer com tal arsenal, cujo dinheiro gasto na fabricação e manutenção daria para acabar com a fome do mundo.

E assim, promovem guerras falsas contra fantasmas inexistentes, para que possam testar ou reduzir parte de tal armamento, cujo potencial  poderia destruir o planeta dezenas de vezes. Em meio a tudo isso sinto-me estranho e alienígena porque ainda paro para oferecer um sorriso amigo, embora isso cause estranheza aos outros.

Ainda sinto uma e estranha e antiquada emoção em oferecer flores, em ouvir quem quer falar ou em falar para quem quer me ouvir, mesmo que isso faça com  que me qualifiquem como tolo e quadrado.

As vezes me sinto assaltado por uma estranha e vergonhosa emoção chamada amor mas tenho medo que as pessoas saibam.

As vezes sinto que existe em mim uma outra forma de vida, um pouco de um outro ser, parte daquela vida que renasce no desabrochar de uma flor, na caricia suave do vento, ou no amor sincero de uma criança. Sinto as vezes que por alguns segundos tomo forma e comportamentos humanos o que me causa estranheza e medo. Por isso lhe peço, ensina-me a viver o hoje e não o ontem, pois é muito difícil ser um estranho em meio a tanta gente. É estranho ter que se esconder para chorar. É estranho sorrir. Sorrir para quem? Para seres de pedra animados? Ensina-me a ser moderno frio e insensível as coisas que não me dizem respeito ou que não me interessam. Enfim, é vergonhoso sentir amor, essa emoção tão desgastada e absurda. Ensina-me a  viver essa vida forte, essa vida sólida, essa vida de pedra. ENSINA-ME A VIVER.

Roberto Tereziano/ P.Caldas

PUBLICADA EM 1986.

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