BOM DIA CAFÉ (cronica)
-
Roberto Tereziano
Ás vezes a gente começa a fazer certas conjecturações que nos levam á curiosos caminhos.
Saí no sábado pela manhã e, como de sempre, passo por uma das nossas belas cafeterias, que, diga-se de passagem, são verdadeiras delicias.
Novos cartões de visita de Poços de Caldas.
Há drinques (com ou sem álcool), sorvetes, doces e até mesmo a pratos elaborados.
Algumas de nossas casas de chá e pontos de cafés, mais parecem àqueles lugares aconchegantes da França, Espanha e outros países com tradição no impecável atendimento quando o assunto é preparar chá ou café.
O ambiente e a cordialidade de várias das nossas cafeterias e casas de chás até nos faz lembrar o caminho do chá, delicioso capítulo do livro “A viagem de Teo” romance de Catherine Clement, que descreve de forma saborosa, a cerimônia que vai do preparo até o saborear dos deliciosos e aromáticos néctares de ervas.
O primeiro dos sentidos que tais locais nos acendem é o olfato. Sem abandonar a minha mesa acompanho com os demais sentidos o bailar suave das funcionárias, de um lado para outro, em certas casas até o torrar do grão e a moagem são feitas na hora.
O paladar vai ficando cada vez mais aguçado. O intervalo entre o depositar da água quase fervendo e o coar da deliciosa rubiácea acontece em minutos que mais parecem uma eternidade.
E finalmente o tão desejado momento acontece.
Com creme, com uísque ou conhaque. Expresso, forte e encorpado ou apenas o tradicional. Gourmet, arábica, extra-forte... Não importa, a escolha é sua.
A hora é chegada.
De preâmbulo, um pequeno copo d’água mineral gelada, de preferência... gasosa faz com que as glândulas bucais se abram para se tornarem mais receptivas aos sabores do café.
Os preços também são vários, mas a alta qualidade é a mesma. Há até uma das casas com tudo direto da fazenda tudo com preços normais, do café aos queijos caipiras.
Adoçante ou açúcar? Se o produto for de uma dessas cafeterias, prefiro sem ambos. Opto pelo puro sabor, pois até o amargo é “doce” e revela requintados elementos imperceptíveis, caso tenha qualquer elemento adocicante.
A cerimônia nos leva a outro remoto momento.
Deixei a cafeteria e tomei a estrada. Rumo a uma fazenda qualquer.
Pelo caminho já se pode acompanhar os diversos corredores de cafezais.
Desde árvores enormes com galhos ainda floridos até outras com grãos já vermelhos sendo devorados avidamente pelos pássaros.
Lembrei-me do “Café de jacu” aquele comido pelo pássaro, processado no seu organismo para perder a acidez, defecado, seco e só então colhido, ou melhor, catado, para estrangeiro degustar.... Gringo tem cada uma! Ainda prefiro o método tradicional.
Pelos corredores dos cafezais já se pode ver os trabalhadores, enxadas nas mãos, limpando por debaixo dos pés da planta onde cairão os grãos. Terreiros limpos até alguns aparatos já modernosos... Secadores elétricos sofisticados... Computadorizados que dispensam os terreiros que em vários lugares já servem para as crianças brincar de futebol. Máquinas colheitadeiras e equipamentos ainda meio estranhos para quem ainda pensa em vida rural. São os equipamentos tecnológicos que mais modernos para os cafés especiais que estão se tornando especialidade de nossa região.
Caminho um pouco mais. Encontro o início da produção. Tudo simples. Não tem irriçadeira nem mecanicismo. Tudo é como nos velhos tempos, panos de café expostos ao sol. No lugar de máquinas vejo mãos rústicas... Calejadas... Vozes... sorrisos... Vida.
Aqui nasce o cafezinho do tempo da vovó. Exposto ao sol... Virado... peneirado.. Torrado no fogão a lenha e moído como se fazia a centenas de anos. Café com sabor de saudade.
Aqui convidam para entrar na casa. Adentro... fogão ainda em brasas...a chaleira mostra que a água está fervente. Coador de pano no “coadorzeiro de madeira ou mancebo”. Colher de pau... Bule na chapa.
O café oferecido na caneca. Quente, suave e já com açúcar. É bom também. Tem sabor de mãe.. sabor de vovó.. sabor de Saudade. Sabor de amizade cabocla, verdadeira.
Sabor de gente simples que nem imagina as cafeterias... A maquinaria e os caminhos que nos remetem a descobrir a rota do “ouro verde” das mãos do homem do campo ás boutiques de cafés do mundo moderno.