CulturaDiversosNotíciasRoberto Tereziano

As Quarentenas e a Arca de Noé

A mais famosa das quarentenas que se tem na historia da humanidade está registrada e narrada no livro sagrado do cristianismo tendo como personagem central Noé, que por ordem e alerta Divino, construíra a gigantesca arca, o Titanic dos tempos que antecederam a era cristã, e que ao contrário do navio britânico que não resistiu ao Ice Berg, resistira incólume a fúria do diluvio mandado por Deus.

 A gigantesca arca bíblica de tamanho bem avantajado para a época, segundo a bíblia, e com capacidade para abrigar um casal animal de cada espécie existente, lógico que bem apertados, pois a embarcação só media aproximadamente cento e quarenta metros de cumprimento por vinte três de largura e mais quatorze metros de altura, tinha que levar ainda, um volume de alimento para  cada espécie suficiente para quarenta dias, e mais um volume de água potável para saciar a cada animal da fauna e as pessoas confinadas, e também todos os devidos e incalculáveis métodos e rotinas para operacionalizar todos os procedimentos internos da nave enquanto durasse a quarentena que, felizmente, como o nome dizia, durou somente quarenta dias.

Segundo os relatos sagrados foram quarenta dias e quarenta noites de chuvas torrenciais que  cobriram cem por cento do planetinha. Até os peixes, possivelmente, se afogaram com tanta água do histórico dilúvio.

Bem diferente da quarentena na arca de Noé, e da desvaria moral que provocara a ira de Deus, estamos ainda sobreviventes, mesmo fora da arca, da mais recente quarentena do século e, que chegou silenciosa e com alguns agravantes a mais que os tempos bíblicos. Nem Deus, ou mesmo um porta-voz Divino, veio nos antecipar sobre o que estava por vir.

 Não fomos avisados de forma convincente de que ela seria decretada. Não tínhamos lideres com a credibilidade de Noé para dar a ordem de recolher que até os animais obedecessem. Não tivemos nem tempo para nos organizar até mesmo para estocar ração alimentar para nos garantir sobrevivência durante certo período. Mais de meio ano já se passou sem que afastássemos mais de cinco metros fora da pequena arca onde nos aquarentamos em dois mil e vinte.

 Quarentena fora de casa, sem internet, sem cartão de crédito, sem telefone fixo, quase sem celular, quase sem livros, etc. Enfim, quase sem contato com o mundo externo. Não fosse uma televisão fixa em único canal que nos tornou especialistas em Covid-19, novelas e programas reprisados. Com poucos livros já lidos, restou releituras de “Pássaros Feridos”, algumas inconfidências de  Cecilia Meireles, Mestres da Pintura, Crônicas da Vida do Mestre Bruno Filisberti, Cem anos de solidão, etc.    Lembranças de “O Poder do Agora” de EckhartTolle,sem nos esquecer que o nosso poder no momento não vai além das divisas da casa e do quintal.

Até as  conversas e o tossir dos poucos vizinhos são ameaçadores. Lembranças de “A vida no Lago,” de Thoreau” nos fez procurar por algumas sementes para plantar, o que  possibilitou uma razoável produção pessoal de verduras e legumes para a complementação alimentar, e, até o ato de compartilhar o excedente com a vizinhança. Tudo com o devido distanciamento decretado pela OMS.

Dezenas de vezes ao dia olhando pela janela e vendo apenas a mesma imagem estática da paisagem, quase uma pintura pela imobilidade poucas vezes alterada pelo vento que existia lá fora, e a  quase, inexistência de vida humana nas imediações onde a vista alcança. Pensava que a nossa modernidade na medicina era real, mas, ao que parece, a ferramenta mais eficaz ainda foi a velha mascara de pano igual às usadas cem anos antes, quando da pandemia da gripe espanhola.

Centenas de medicamentos sendo testados, mas nenhuma real aprovação até o momento, e assim caminha a humanidade á espera da promissora vacina que enfrente o minúsculo Covid-19 que sem alardes decretou ao mundo um ano de solidão. Parece que a ira Divina com a nossa Sodoma e Gomorra, mandou uma quarentena bem maior que a do tempo de Noé.

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