Literatura

Uma década entre Guerra e Paz (cronica)

 

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A diferença primeira é de apenas uma década. Eu nasci antes.

Ela de cidade grande e de família com bom poder aquisitivo. Eu, família pobre, interiorana, muitos filhos, diferente dela, apenas uma, ou duas  irmãs.

 Eu jornalista, pois não tinha condição financeira para bancar medicina, ela pós-graduando em direito. Eu negro, ela branca. Ela evangélica extrema, Eu, mal católico, apenas fui batizado quando ainda não sabia falar, não.

 Muita coisa em comum, mesmo gosto pelas boas músicas, pelos bons livros e pelos bons eventos culturais. Eu nunca consumo tabaco nem bebida alcoólicas, ela, raramente a ambos. Eu me alimento mal e fora de hora, ela me espera e me acompanha, não sei até quando.

Eu sempre falante, ela não muito diferente. Vez por outra, tem uma estranha mudez sepulcral, (coisa de mulher) mas sempre acorda sorrindo. Eu não sei acordar diferente.

 Quando o assunto vai para política a coisa pega. Eu cresci na ditadura e lutando contra, ela cresceu e continua a favor. Ela, mesmo diplomada em direito, não acredita na justiça. Eu, mesmo reconhecendo os tropeços, e que até já fui vítima da parte cega e injusta, acredito, especialmente, numa safra de novos juízes  promotores e advogados  que tentam recuperar a imagem de ambas as classes. Quanto à vida em sociedade as ideias também são confusas. Eu amo, primeiramente, as pessoas, ela, cães e gatos. 

 E as contradições aumentam. Eu luto para melhorar a segurança. Ela acha que é assim mesmo e, que não tem saída. Eu acredito na dificuldade estrutural da polícia, ela na inoperância da mesma.  Eu antidrogas, ela pela liberdade de escolhas.

Eu acredito e luto para que a sociedade mude para melhor, ela aposta no caos inevitável. Eu, mal cristão, acredito no paraíso, ela, evangélica, acha que a humanidade caminha para o nirvana.

 Eu confio em deixar a porta aberta, ela só confia na porta fechada.

 Eu vejo o copo meio cheio, ela copo meio vazio. Eu confio. Ela desconfia. Guerra e paz não se misturam, apenas caminham juntas, se respeitam, mas se temem, não sei até quando. Ela moderna, eu quadrado. Quanta diferença em apenas uma década! Me assusta.

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