Bruno Filizberti: Cem anos de eternidade
Não só de nativos se faz uma cidade, mas Poços de Caldas tem uma vocação para despertar o gosto adormecido da criação.
De tempos em tempos se aportam por aqui pessoas com espíritos audaciosos e ricamente desenvolvidos para o belo não importa se já chegam trazendo um capital cultural adquirido ou se descobrem na cidade talentos que levarão para a vida toda.
Isto se dá para os mais diversos ramos das artes, ciências e cultura.
Seria pequeno o espaço para nomear tantas contribuições para o desenvolvimento da cidade.
Com a pintura não foi diferente. O menino Bruno chega muito cedo, vindo da cidade de Mococa, com pouco mais de cinco anos e logo já rabisca pelas paredes e calçadas, com pedaços de carvão dos fogões de lenha, os seus primeiros traços.
O professor Ângelo Guazzeli foi o primeiro a sentir nos traços o potencial do menino e a adota-lo como aprendiz para que começasse logo.
De família pobre e morando quase de favores, mas nada incomodava o menino que só se preocupava com desenhos.
O tempo corre célere. Já adolescente Bruno vai buscando escolas e pequenos trabalhos deixa Poços de Caldas e retorna a sua cidade de origem. Consegue um trabalho de ajudante de sapateiro e durante a noite estuda artes. Mais tarde se torna ajudante de marmorista, mas o peso das pedras não importa. Ele queria sentir as variações de luz e formas. Bruno via nos blocos de mármore o que os outros não percebiam.
Foi com trabalhos modestos para os olhos alheios aos seus verdadeiros interesses que o garoto chegou à escola de belas artes.
Não se sabe ao certo quando sua produção mais madura começou, mas há pessoas que na década de 20 receberam de presente desenhos e quadros com os traços Filizberti.
A escola de belas artes de São Paulo, que para muitos era o ápice, para Bruno, apenas o começo. Terminada a escola de artes ele ainda não se julgava preparado para o mundo das artes. Escolheu como mestre o professor Amadeo Scavone e com simplicidade o acompanhou por mais dez anos. Só então seguiu seu próprio caminho rumo a Poços de Caldas.
Tímido e de modos simples. Metódico e reservado para novas amizades, ele tinha hora certa para tudo. Hora para pintar. Hora para música. Hora para a caminhada vespertina, pelas mesmas ruas, falava com as mesmas pessoas e parava nos mesmo lugares. Em um artigo para o jornal O Estado de São Paulo, o saudoso escritor Jurandir Ferreira o chamou de “Bicho Filizberti” talvez o fosse mesmo. Só se revelava com lápis ou pinceis. Quase toda casa de bom gosto de Poços de Caldas traz com orgulho uma das “pérolas em tela” pintadas por Filizberti.
Excessivamente quieto fora de seu pequeno circulo de amizades, descia cabisbaixo pala Rua Assis Figueiredo. Virava na R. Prefeito Chagas e só parava no Foto Dorival. A conversa diária tinha o mesmo tempo de duração e depois retornava a sua casa-atelier. Poucas eram as pessoas com as quais ele falava. Mesmo com tal temperamento e simplicidade conservou verdadeiros amigos que se encarregavam de mandar seus quadros para concursos e exposições e raramente a obra retornava sem uma premiação.
Filizberti, curiosamente, desenhou caricaturas, capas de livros, dentre as quais, capas para os escritores Jurandir Ferreira e Milton Costa. Ilustrou jornais e cultivou a boa musica caipira. Não aceitava o honroso título de professor justificando: “Não fui educado para ensinar”, mas fez grandes discípulos, dentre os quais os pintores hoje renomados, Aldo Stoppa, Édis Bonadeiro e Alfeu Barbosa. Pintou palacetes, mas preferia os casebres. Pintou nobres, mas se realizava com as massas, os folguedos e as festas populares. Era nas festas de São Benedito, carnaval e, fundo de mercado que Filizberti expressava toda sua arte.
Ele não ligava para premiação ou vendas, apenas se interessava em pintar, mas em um canto de seu atelier já se amontoavam mais de 35 medalhas dentre as quais várias de ouro e muitas outras menores. Não havia mais, pois por ele não buscava as medalhas e premiações.
Foi assim a vida simples do “bicho Filizberti” em 2012 estaria completando cem anos, mas um dia, em 1967, faltando um mês para o seu aniversário, ele não passou pela Rua Assis Figueiredo, e não parou no foto do amigo Dorival. Estava enfermo e foi hospitalizado vindo a falecer poucos dias depois. Mas a obra vigorosa de Filizberti, digna de figurar nos mais importantes espaços de belas artes, vibra ainda hoje, mais de 30 anos depois de sua morte e influencia dezenas de jovens pintores. Muito da produção de Bruno foi para o exterior e talvez não se recupere mais. Porem é possível reunir em Poços de Caldas num piscar de olhos centenas de trabalhos do pintor. Também em uma pasta qualquer que tenho em casa
reúnem-se mais de uma centena de estudos, desde os tempos iniciais do jovem artista, na esperança de que um dia um critico de artes analise a vigorosa obra do nosso pintor maior Bruno Filizberti.
Parabéns Roberto!Pela merecida homenagem a este grande artista ,para mim um gênio da pintura,um eterno professor que nos inspira a boa arte,infelizmente não tive o privilégio de conhece-lo, mas o considero como mestre por deixar um grande legado de obras para estudo, pena que esquecido e pouco lembrado pelos governantes de nossa cidade.
Deixo aqui um sonho,em que um dia possamos ter em Poços um espaço só com obras e objetos deste grande artista.
RT. Tudo? Boa Noite! Amigo, permita -me uma ressalva: onde se lê ano de 1967. Quando na realidade… 1979. Linotipo, (RS!) ficou de ponta-cabeça! 67=79. Tendeu?! … se entrar no túnel do tempo – segundo a data mencionada no texto – lindo texto por sinal! Eu jamais teria conhecido o nosso Mestre Maior: Bruno Filisberti.