Em 1955 Morria Carmem Miranda
Maria do Carmo Miranda da Cunha, mais conhecida como Carmen Miranda, foi uma cantora e atriz luso-brasileira, a qual ficou conhecida mundialmente por sua participação em programas de rádio e em filmes, sendo considerada a precursora do “Tropicalismo” (movimento cultural brasileiro surgido no final da década de 1960.
Carmen Miranda nasceu na cidade de Marco de Canaveses [Coordenadas GPS: Latitude / Longitude = 41°10’54.02″N, 8° 8’58.25″W], distrito do Porto (Portugal) em 09 de Fevereiro de 1909, sendo a segunda filha do barbeiro José Maria Pinto Cunha (1887-1938) e de Maria Emília Miranda (1886-1971).
Ganhou o apelido de Carmen no Brasil, graças ao gosto que seu pai tinha por óperas.
Pouco depois de seu nascimento, seu pai, José Maria, emigrou para o Brasil, onde se instalou no Rio de Janeiro.
Em 1910, sua mãe, Maria Emília seguiu o marido, acompanhada da filha mais velha, Olinda, e de Carmen, que tinha menos de um ano de idade.
Carmen nunca voltou à sua terra natal, o que não impediu que a câmara municipal de Marco de Canaveses desse seu nome ao museu municipal.
No Rio de Janeiro, seu pai abriu um salão de barbeiro na rua da Misericórdia, número 70, em sociedade com um conterrâneo.
A família estabeleceu-se no sobrado acima do salão.
Mais tarde mudaram-se para a rua Joaquim Silva, número 53, na Lapa.
No Brasil, nasceram os outros quatro filhos do casal: Amaro (1911), Cecília (1913-2011), Aurora (1915 – 2005) e Oscar (1916).
Carmen estudou na escola de freiras Santa Teresa, na rua da Lapa, número 24, e teve o seu primeiro emprego aos 14 anos numa loja de gravatas, e depois numa chapelaria.
Contam que foi despedida por passar o tempo cantando, mas o seu biógrafo Ruy Castro diz que ela cantava por influência de sua irmã mais velha, Olinda, e que assim atraía clientes.
Nesta época, a sua família deixou a Lapa e passou a residir num sobrado na Travessa do Comércio, número 13. Em 1925, Olinda, acometida de tuberculose, voltou a Portugal para tratamento, onde permaneceu até sua morte em 1931. Para complementar a renda familiar, sua mãe passou a administrar uma pensão doméstica que servia refeições para empregados de comércio.
Em 1926, Carmen, que tentava ser artista, apareceu incógnita em uma fotografia na sessão de cinema do jornalista Pedro Lima da revista Selecta. Em 1929, foi apresentada ao compositor Josué de Barros, que encantado com seu talento passou a promovê-la em editoras e teatros. No mesmo ano, gravou na editora alemã Brunswick, os primeiros discos com o samba Não Vá Sim’bora e o choro Se O Samba é Moda. Pela gravadora Victor, gravou Triste Jandaia e Dona Balbina ou “Buenas Tardes muchachos”.O grande sucesso veio a partir de 1930, quando gravou a marcha “Pra Você Gostar de Mim” (“Taí”) de Joubert de Carvalho.
A partir de tal períodos assinou vários contratos com a URCA, do Rio de Janeiro, rede de cassinos que tinha uma filial em Poços de Caldas e, a partir de então, criou uma ligação forte com a cidade, tendo mesmo várias de suas temporadas começado por Poços de Caldas. Aqui criou ligações com Nini Mourão, Walter Moreira Sales, Pedrinho Junqueira e tantas outras grandes amizades.
Participou em 1933 da inauguração da PRH-5 Rádio Cultura de Poços de Caldas, a segunda emissora do interior do Brasil, juntamente com sua irmã Aurora, que estava também começando sua carreira de cantora. Aqui se apresentou com o famoso grupo musical Bando da Lua, que a acompanhava.
Carmem Miranda gravou ainda em 1932, a musica Um pouquinho de Amor, de Joubert de Carvalho, na qual menciona o nome de Poços de Caldas.
Antes do fim do ano, já era apontada pelo jornal O País como “a maior cantora brasileira”.
Ainda em 1933 ajudou a lançar, oficialmente, a irmã Aurora na carreira artística.
No mesmo ano, assinou um contrato de dois anos com a rádio Mayrink Veiga para ganhar dois contos de réis por mês, o que hoje equivale a cerca de R$ 1000,00.
Foi a primeira cantora de rádio a merecer contrato, quando a praxe era o cachê por participação.
Em 30 de outubro realizou sua primeira turnê internacional, apresentando-se em Buenos Aires.
Voltou à Argentina no ano seguinte para uma temporada de um mês na Rádio Belgrano.
Em dezembro de 1936, Carmem deixou a Mayrink Veiga e assinou com a Tupi, ganhando cinco contos de réis.Em 20 de janeiro de 1936, estreou o filme Alô, Alô Carnaval com a famosa cena em que ela e Aurora Miranda cantam “Cantoras do Rádio”.
No mesmo ano, as duas irmãs passaram a integrar o elenco do Cassino da Urca de propriedade de Joaquim Rolla.
A partir de então as duas irmãs se dividiram entre o palco do cassino e excursões frequentes pelo Brasil e Argentina.
Depois de uma apresentação para o astro de Hollywood Tyrone Power em 1938, aventou-se a possibilidade de uma carreira nos Estados Unidos.
Carmen recebia o fabuloso salário de 30 contos de réis mensais no Cassino da Urca e não se interessou pela idéia.
Em 1939, o empresário estadunidense Lee Shubert e a atriz Sonja Henie assistiram ao espetáculo de Carmen no Cassino da Urca.
Depois de um espetáculo no transatlântico Normandie, Carmen assinou contrato com o empresário.
A execução do contrato não foi imediata, pois a cantora fazia questão de levar o grupo musical Bando da Lua para a acompanhar, mas o empresário estava apenas interessado em Carmen.
Depois de voltar para os Estados Unidos, Shubert aceitou a vinda do Bando da Lua.
Carmen partiu no navio Uruguai em 4 de maio de 1939, às vésperas da Segunda Guerra Mundial.
Em 29 de maio de 1939 Carmen estreou no espetáculo musical “Streets of Paris”, em Boston, com êxito estrondoso de público e crítica.
As suas participações teatrais tornaram-se cada vez mais famosas.
Em 5 de março de 1940, fez uma apresentação perante o presidente Franklin D. Roosevelt durante um banquete na Casa Branca.
Em 10 de julho de 1940 retornou ao Brasil, onde foi acolhida com enorme ovação pelo povo carioca.
No entanto, em uma apresentação no Cassino da Urca com a presença de políticos importantes do Estado Novo, foi criticada pelos que a consideravam “americanizada”.
Entre os seus críticos havia muitos que eram simpatizantes de correntes políticas contrárias aos Estados Unidos.
Dois meses depois, no mesmo palco, Carmen foi aplaudida entusiasticamente por uma plateia comum.
No mesmo mês gravou seus últimos discos no Brasil, onde respondeu com humor às acusações de ter esquecido o Brasil e ter-se “americanizado”.
Em 3 de outubro, voltou aos Estados Unidos e gravou a marca de seus sapatos e mãos na Calçada da Fama do Teatro Chinês de Los Angeles.
Entre 1942 e 1953 atuou em 13 filmes em Hollywood e nos mais importantes programas de rádio, televisão, casas noturnas, cassinos e teatros norte-americanos.
Mais uma vez ele encontra nos Estados Unidos ligação com Poços de Caldas. Quem fez os arranjos para os filmes foi Vadico, Osvaldo Almeida Gogliano, pianista nascido em São Paulo mas, que cresceu em Poços de Caldas onde teve sua iniciação musical, indo depois trabalhar no Rio e de lá, para Holliwood. Tendo mais tarde integrado o Bando da Lua. Vadico até participa dos filmes como pianista.
A Política de Boa Vizinhança, implementada pelos Estados Unidos para buscar aliados na Segunda Guerra Mundial, incentivou a imigração de artistas latino-americanos.
Apesar de ter chegado nos Estados Unidos antes da criação da Política de Boa Vizinhança, Carmen Miranda sempre foi identificada como a artista de maior sucesso do projeto.
Em 1946, Carmen era a artista mais bem paga de Hollywood e a mulher que mais pagava imposto de renda nos EUA.
Em 17 de março de 1947 casou-se com o americano David Sebastian, nascido em Detroit a 23 de novembro de 1908.
Antes, Carmen namorou vários astros de Hollywood e também o músico brasileiro Aloysio de Oliveira, integrante do Bando da Lua.
Antes de partir para os Estados Unidos e antes de conhecer o marido, Carmen namorou o jovem Mário Cunha e o “playboy” Carlos da Rocha Faria, filho de uma tradicional família do Rio de Janeiro.
Já nos EUA, Carmen manteve caso com os atores John Wayne e Dana Andrews.
O casamento é apontado por todos os biógrafos e estudiosos de Carmen Miranda como o começo de sua decadência moral e física.
Seu marido, David, antes um simples empregado de produtora de cinema, tornou-se “empresário” de Carmen Miranda e conduzia mal seus negócios e contratos.
Também era alcoólatra e pode ter estimulado Carmen Miranda a consumir bebidas alcoólicas, das quais ela logo se tornaria dependente.
O casamento entrou em crise já nos primeiros meses, por conta de ciúmes excessivos, brigas violentas e traições de David, mas Carmen Miranda não aceitava o desquite pois era uma católica convicta.
Engravidou em 1948, mas sofreu um aborto espontâneo depois de uma apresentação e não conseguiu mais engravidar, o que agravou suas crises depressivas e o abuso com bebidas e remédios sedativos.
Desde o início de sua carreira americana, Carmen fez uso de barbitúricos para poder dar conta de uma agenda extenuante.
Adquiria as drogas com receitas médicas pois, na época, elas eram receitadas pelos médicos sem muitas preocupações com efeitos colaterais.
Nos Estados Unidos, tornou-se dependente de vários outros remédios, tanto estimulantes quanto calmantes.
Por ser também viciada em cigarro e beber muito álcool, o efeito das drogas foi potencializado.
Por conta do uso cada vez mais frequente, Carmen desenvolveu uma série de sintomas característicos do uso de drogas, mas não percebia os efeitos devastadores, que foram erroneamente diagnosticados como estafa (cansaço) por médicos americanos.
Em 3 de dezembro de 1954, Carmen retornou ao Brasil após uma ausência de 14 anos viajando e fazendo shows pelo mundo, além de estar morando nos EUA.
Ela continuava casada e sofrendo com o marido, cada vez mais alcoólatra e violento.
Seu médico brasileiro constatou a dependência química e tentou desintoxicá-la.
Ficou quatro meses internada em tratamento numa suíte do hotel Copacabana Palace.
Carmen melhorou, embora não tenha abandonado completamente drogas, álcool e cigarro.
Os exames realizados no Brasil não constataram alterações de frequência cardíaca.
Ligeiramente recuperada, retornou para os Estados Unidos em 4 de abril de 1955.
Imediatamente começou com as apresentações.
Fez uma turnê por Cuba e Las Vegas entre os meses de maio e agosto e voltou a usar barbitúricos, além de fumar e beber mais do que já fumava e bebia.
No início de agosto de 1955, Carmen gravou uma participação especial no programa televisivo do comediante Jimmy Durante.
No momento em que Carmen Miranda realizava um número de dança, sofreu um ligeiro desmaio, desequilibrou-se e foi amparada por Durante.
Recuperou-se e terminou o número.
Na mesma noite, recebeu amigos em sua residência em Beverly Hills, à Bedford Drive, 616.
Por volta das duas da manhã, após beber e cantar algumas canções para os amigos presentes, Carmen subiu para seu quarto para dormir.
Acendeu um cigarro, vestiu um pijama, retirou a maquiagem e caminhou em direção à cama com um pequeno espelho à mão.
Algum tempo depois, um colapso cardíaco fulminante (infarto) a derrubou morta sobre o chão no dia 5 de agosto.
Seu corpo foi encontrado pela mãe no dia seguinte, às 10h30 da manhã. Tinha 46 anos.
Aurora Miranda, sua irmã, recebeu na mesma madrugada um telefonema do marido de Carmen Miranda avisando sobre o falecimento.
Aurora Miranda se desesperou por completo e passou então a notícia para as emissoras de rádio e jornais.
Heron Domingues, da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, foi o primeiro a noticiar a morte de Carmen Miranda em edição extraordinária do Repórter Esso.
Em 12 de agosto de 1955, seu corpo embalsamado desembarcou de um avião no Rio de Janeiro.
Das milhares de pessoas que foram ao seu velório sessenta mil pessoas puderam passar perto do caixão, no saguão da Câmara Municipal da então capital federal, dentre as quais estava Nini Mourão que fora ao velório com seu esposo Dr. Clodoveu Davis. Somente ela pode passar pero do caixão da amiga, graças a uma carteira de imprensa do jornal O Diário de Poços de Caldas.
O cortejo fúnebre até o Cemitério São João Batista foi acompanhado por cerca de meio milhão de pessoas que cantavam esporadicamente, em surdina, “Taí”, um de seus maiores sucessos.
No ano seguinte, o prefeito do Rio de Janeiro Francisco Negrão de Lima assinou um decreto criando o Museu Carmen Miranda, o qual somente foi inaugurado em 1976 no Aterro do Flamengo.
Hoje, uma herma em sua homenagem se localiza no Largo da Carioca, Rio de Janeiro.
Carmen Miranda morreu em 05/08/1955 com 46 anos de idade, vítima de um infarto fulminante.
(fonte principal site oficial da cantora)
Gostei desta crônica sobre Carmen Miranda.
Estive em Poços de Caldas, durante dois anos. Lugar lindíssimo.
Não sabia que a “Pequena Notável”, como também é conhecida, estava tão ligada a Poços de Caldas.
Parabéns a vocês.