Homenagem a Michel Rocard, que faleceu dia 2 em Paris.
Michel Rocard faleceu último dia 2 aos 85 anos, em Paris. Socialista, fundador do PSU, Partido Socialista Unificado, foi ex-primeiro ministro de François Mitterrand. Ele tentou fundar uma segunda esquerda, moderna, em oposição à arcaica representada por Mitterrand. Com mais de 60 livros publicados e inúmeros artigos, Rocard foi um socialista republicano que lutou pela transformação da sociedade, aproximando o econômico do social, entendendo que para tal é preciso se apoiar no Estado e inúmeros atores da sociedade. Abaixo, algumas reflexões de Michel Rocard sobre o poder e a política. (tradução livre).
“A profissão de político consiste em reivindicar o poder, o qual tem duas funções principais na sociedade.
A primeira, exercer o monopólio público da violência para não deixá-la (ser exercida) à violência privada.
Ë preciso policia, também é preciso defender-se da violência internacional . A segunda função consiste em canalizar a circulação do dinheiro.
E aí tocamos na sujeira, por definição.
E nós nos sujamos quando encostamos na imundície, mesmo quando os motivos sejam limpos.
E qualquer pessoa que queira fazer política, negligenciando esses dois aspectos é um amador, também é perigoso, por angelismo.”
Entrevista de Michel Rocard à Radio France Culture em 1991.
“Se eu tivesse que começar de novo, eu não mais exerceria a profissão de político.
A rapidez das técnicas, a globalização financeira fizeram com que o espaço de responsabilidade do governo da República Francesa ficasse reduzido consideravelmente; enquanto isso as pessoas nos transformaram (políticos) em responsáveis por tudo…
Nossos antigos reis tinham seus bufões, mas os bufões do rei não entravam na catedral.
Hoje, os bufões ocupam a catedral e os políticos devem lhes pedir perdão.
Isso faz com que venham à política apenas os fracassados de profissão.” Entrevista de 10 de setembro de 2008.
« Le métier politique consiste à revendiquer le pouvoir, lequel a deux fonctions principales dans la société. Un, c’est d’y exercer le monopole public de la violence pour ne pas la laisser à la violence privée, il y faut la police, ou à la violence internationale, il y faut se défendre. Et deux, de canaliser la circulation de l’argent. On touche au sale, par définition. Et on se salit quand on touche au sale, même si les motifs sont propres. Et quiconque prétend faire de la politique en négligeant ces deux aspects est un amateur, et en tant qu’angélique, il est dangereux. » (Michel Rocard, sur France Culture le 25 avril).
« Moi-même, si c’était à refaire, je ne referais pas ce métier. La rapidité des techniques, la mondialisation financière font que l’espace de responsabilité du gouvernement de la République française a considérablement diminué, alors même que les gens vous rendent responsables de tout. (…) Nos rois avaient leurs bouffons, mais le bouffon du roi n’entrait pas dans la cathédrale. Aujourd’hui, les bouffons occupent la cathédrale, et les hommes politiques doivent leur demander pardon. Ce qui fait que ne viendront plus à la politique que les ratés de la profession. » (10 septembre 2008)
tarquinio45@yahoo.fr