Ipês, sakuras e Pau Brasil
*Roberto Tereziano
Ainda pela manhã do dia 22, chegada da primavera, assistindo a um jornal matutino vi uma reportagem sobre uma cidade mineira que teve, praticamente, os ipês tombados como patrimônio vegetal da cidade.
Cada vez que vejo os ipês floridos, especialmente os amarelos que são os primeiros que se florem anunciando o inverno, alguns assuntos florescem na minha mente. De imediato penso na chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil, sendo recebidos por um caminho de flores amarelas, muito parecidas com flores de Ipês, oferecidas pelo nosso Pau Brasil, ou com as sakuras, amarelas ou cor-de-rosa.
Traço uma similitude com o caminho do chá do Japão. Vem-me a mente um delicioso livro chamado A Viagem de Téo. O mencionado livro narra um passeio de um adolescente pelo mundo para conhecer mais sobre as centenas de manifestações religiosas praticadas pelo homem, e ao passar pelo Japão o menino tem a rica oportunidade de assistir a cerimonia do chá.
Téo, com sua tia, companheira de viagem, são convidados para degustar um delicioso chá, mas o passeio não se resume a ocupar um lugar na mesa e engolir uma xicara de água fervente na qual foram acrescentadas folhas de uma erva qualquer.
Culturalmente naquele país asiático, a hora do chá é algo sagrado. Começa com um sereno caminhar por alamedas de centenas de árvores de sakura, entre flores que estão se abrindo e pintando não só o céu, mas também o solo, anunciando a primavera, criando uma exótica e bela paisagem florida, nos galhos e no chão, só depois desse caminhar feito a pé, e de forma lenta e silenciosa para se entrar ao ambiente da casa de chá, higieniza-se as mãos. Deixa fora os sapatos, calça-se as pantufas, depois adentra-se e assiste, respeitosamente, segundo por segundo, passo-a-passo, o preparo silencioso das ervas, o aquecer da água, a infusão das folhas. Sente-se o aroma inebriante que se expande e, só depois, é servido o liquido ainda quente, para ser, vagarosamente, degustado e solvido. Entre as flores amarelas ou de cor rosa começa o caminho do chá, como a mais de quinhentos anos foi o nosso descobrimento, e se viu nossas flores amarelas do pau Brasil.
Aquilo que no Brasil, se faz em minutos, mecanicamente, lá, se dá e se têm muitos outros valores agregados. A cerimoniado chá é algo espiritual que nos chama á uma grande reflexão, e a uma viagem introspectiva. O chá tem algo a mais no sabor.
Porque tais flores fazem-me pensar no pau Brasil tão desconhecido por nós?
As flores dele tem grande semelhança com os Ipês e com as sakuras, já o respeito não se iguala em nada. E foi da admiração que se sentiu há mais de quinhentos anos, que se originou o nome do país.
Como seria importante que em nossos parques e avenidas pudéssemos contemplar, mesmo que fosse apenas um exemplar da árvore símbolo, mesmo que fosse apenas como ponto didático! Seria até mesmo utópico pensar em uma alameda ou um parque inteiro dedicados ao Pau Brasil.
Ainda na infância declamei, por exercício da professora Ligia Westin, um poema dedicado a tal árvore, em que um esquecido poeta dizia: “E foste a inspiração de tua seiva o nome que batizou a terra”
Sei que encontrei certa vez entre meus guardados num alfarrábio chamado “Leis e decretos do império para o Brasil, um decreto de quase duzentos anos em que se normatizava o corte da árvore de flores amarelas, com a preocupação de que a árvore símbolo não fosse extinta, mas infelizmente, como muitas outras leis e decretos, a normatização ficou apenas no papel. Poucos conhecem o nosso pau Brasil.
Como seria bom andar, respeitosamente, pelo parque entre tais árvores e flores e reverencia-las.
Mas nem mesmo o poema de Paula Barros, dedicado à nossa árvore mãe- vegetal é conhecido. “Assim que viram aquelas árvores, cheias de flores amarelas, como uma festa de ouro, disseram os marinheiros; cada uma é um tesouro”