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Morre aos 95 anos o jornalista Décio Alves de Morais

Morreu na tarde desta terça-feira, 25, o jornalista Décio Alves de Morais. O jornalista vinha passando por problemas de saúde e estava bastante debilitado. O corpo está sendo velado no Velório Municipal e o sepultamento será às 10h da manhã desta quarta-feira no Cemitério da Saudade.

Entusiasta da história da cidade, o jornalista revelou Poços para o mundo. Através de suas fotos, registrou a memória da cidade, e nos jornais mostrou a paixão pela Caldense e pela notícia. No comando de uma gráfica, se consolidou e deixou eternizada a memória de seus anos de trabalho.

Décio Alves de Morais nasceu em Poços, em agosto de 1923, mais precisamente na rua Goiás. O pai de Décio era garçom, mas abandonou a família muito cedo e foi o jornalista, junto a mãe Aeda Farah de Morais, que ajudou a criar os cinco irmãos.

A infância foi de muito trabalho e responsabilidade, dede muito jovem começou a trabalhar para ajudar a família. O primeiro emprego que teve foi na Loja Brasileira, loja de tecidos, umas das principais concorrentes das Pernambucanas, que ficava ao lado de onde hoje está o prédio da atual loja Seller. “Minha mãe nos colocava para aprender vários ofícios, como por exemplo, o de barbeiro, o qual eu não me identifiquei, mas já corríamos atrás de algum emprego”, comentou Décio.

Quando menino era necessário trabalhar para ajudar em casa, e por isso a infância foi ocupada mais com essa preocupação, do que com as brincadeiras costumeiras.

O jornalista não deixou de lembrar de uma grande amizade que fez com Orlando Pasquini e seus irmãos, com a turma que formaram, mesmo muito crianças, conseguiram criar um primeiro negócio.

“A mãe dos meninos tinha morrido e todos nós precisávamos de dinheiro. Então percebemos que poderíamos fazer a ponte entre as frutas que vinham da cidade vizinha São João da Boa Vista pela estação Mogiana”, explica Décio que comprava as frutas na cidade vizinha e revendia no mercado de Poços. “Fizemos um bom negócio e com isso conseguimos um dinheiro, com as sobras das mercadorias ainda alimentávamos as duas famílias”, completa ele que, ainda adolescente, já conseguia ajudar a mãe.

Em 1942 se alistou no serviço militar, já noivo de Araceles Moya de Morais,  quase participou da Guerra, fazia parte do serviço secreto do exército e serviu em várias cidades como: Ouro Fino, São João Del Rei, Itajubá e Teodoro Sampaio. Quando pertencia ao sexto escalão foi para a cidade do Rio de Janeiro, mas neste ano a guerra teve fim.

Ao lado do pai, a filha Rosmally comenta que as cartas que o casal trocou durante esse tempo são tesouros guardados que mostram o amor que sustentaram durante esses anos. “Meus pais fizeram 70 anos de casados, é o amor mais lindo que se possa imaginar”, orgulha-se a filha.

Mais tarde trabalhou com Jorge Salin, proprietário do Cassino do Quisisana. Décio trabalhava como administrador, ajudando no escritório de Salin.   Tornaria sócio de Salin, em 1946, na Empresa de Reclames Sulmineira, onde teve seu primeiro contato com os jornais.

“Eu tinha ideias, mas não tinha dinheiro para começar, então arranjei empregos que pudessem me ajudar a realizar meus objetivos”, comenta o jornalista sobre os sonhos que já o rondavam.

A empresa de Reclames Sulmineira, além de ser uma empresa de propagandas, distribuía o jornal Diário de São Paulo. “Conseguimos algumas premiações pelo número de assinantes que tínhamos”, comenta Décio.

Na distribuição desses jornais, Décio já começava os primeiros passos no jornalismo. Quando começou a trabalhar como correspondente, falava principalmente sobre esporte, o que já era uma paixão do profissional. “A Gazeta tinha um rodapé que trazia notícias de destaque, e me lembro a primeira vez que a Caldense foi noticiada”, destaca.

O jornalista sempre acompanhou a história do time, até hoje, tem uma paixão pela Caldense e planeja lançar um livro somente com as fotos de gols da veterana. O gosto pela fotografia também foi despertado, e através disso começou a registrar a história da cidade através das suas lentes. Envolvido com os jornais, começou a se relacionar com jornalistas de todo o país como os das cidades de São Paulo e Campinas.

Em um jogo decisivo da Caldense contra o Cruzeiro, Décio foi o único repórter a conseguir pegar o gol que o time do Cruzeiro sofreu. “A partida foi histórica e somente eu consegui registrar esse momento”, enfatiza ele.

Paralelamente, ele trabalha no Diário de Poços de Caldas como gerente e encarregado de publicidade. Nesses trabalhos tem contato com propagandas do mundo todo, fazendo um intercâmbio de conhecimento. “Me lembro de posters da Alemanha e de vários países que me encantavam, e que me despertaram o interesse pela fotografia”, conta a filha Rossmaly Borges que apreciava o material que o pai recebia

O pioneirismo

Mais tarde, a Reclame Sulmineira torna-se a Sulminas Publicidade e Propaganda, a primeira agência de turismo de Poços. Na época o turismo da cidade era muito forte, sendo visitada por turistas de todo o país, principalmente do Rio de Janeiro- RJ. Além de ser o destino favorito das luas de mel, o que também consagrou o turismo de Poços.

Em 1950, na agência de turismo, Décio cria os primeiros guias turísticos da cidade, surge o guia ‘Poços de Caldas Informações Turísticas’. “Eu mandava esses guias paras as embaixadas e consulados que ficavam no Rio de Janeiro, levando a fama de Poços para todo o mundo”, fala orgulhoso mostrando um álbum com todos os guias que foram feitos.

Empenhado em divulgar a cidade, fez uma exposição com as propagandas que outros países faziam para divulgar as cidades turísticas, para que os interessados em Poços pudessem aprender e divulgar o município.

Em 1952, lança a primeira revista sobre o famoso Carnaval de Poços, a Seleções Carnavalescas, que chegou há dois anos, a sua 64º edição com histórias das escolas de samba e eventos que acontecem durante o carnaval da cidade. Mostrando a primeira revista, Rossmaly fala das influências. “A revista trazia muito do carnaval do Rio, mostrando as principais marchinhas e novidades da festa”, diz ela.

A Sulminas Publicidade Turismo serviria de sede para o jornal Folha de Poços, sendo Décio um dos fundadores junto com o Dr. José Ayres de Paiva, Pedro de Castro Filho e Nelson de Paiva.

Em 1957, fundaria o “Gazeta do Sul de Minas” trazendo a primeira clicheria para a cidade. A clicheria era a oficina onde se produzia os clichês, que eram placas gravadas em relevo para impressão de imagem e textos através da prensa, onde produzia o jornal.

“Tirava-se a foto, depois o negativo, e do negativo passava-se para o zinco, que era gravado em uma banheira de ácido nítrico”, explica Décio. “Antes para se fazer a composição do jornal era tudo com tipo” comenta a filha. Tipo eram as letras em alto relevo que eram ‘carimbadas’ para escrever todo o conteúdo do jornal.

Décio conta a história curiosa sobre o empastelamento do jornal. “O jornal era perseguido porque criticava muito o governo vigente da época, como os tipos ficavam na caixa, entraram no jornal, pegaram os tipos e jogaram tudo na rua”, lembra Décio ao mostrar a fotografia da destruição do jornal Vida Social na década de 30, em um dos seus livros de fotografias.

“A imprensa já sofria muita retaliação. Quando o jornal publicava algo que os governantes não gostavam, era perseguido e destruído”, comenta Rosmally.

Depois de alguns anos, mais uma vez inovando, o também diretor, traria a primeira fábrica de carimbos. Assim nascia, em 1963, a Gráfica Sulminas, atualmente uma das mais importantes, gráfica e editora, de Poços e região.

Décio funda em 1974 com os amigos Luiz Nassif, Sergio Manucci, Rovilson Molina e Vitor de Carvalho o Jornal Mantiqueira mantendo-o até 1983.

As publicações

Além dos jornais e revistas, DécioMorais tem quatro livros publicados. Apaixonado pela história da cidade reuniu os anos de trabalho na fotografia jornalística, onde registrou a história do futebol e acontecimentos históricos da cidade.

Mostrando todo o acervo que construiu nesses anos é difícil separar o melhor material ou a foto favorita. “Olhando para todo esse material me pergunto se fui eu mesmo quem produziu tudo isso”, brinca o jornalista.

No livro Memórias em Preto e Branco, o jornalista mostra uma foto que foi premiado. Na foto, a história de dois irmãos, um engraxate e sua irmã que fora levar o almoço para o pequeno trabalhador. “Com essa foto ganhei prêmio por retratar a dura realidade da maioria das crianças da época”, comenta ele.

Ainda foi um dos fundadores do Conselho Municipal de Turismo, foi membro da associação de cronistas esportivos e também ajudou a fundar a Associação Sulmineira de Imprensa.

Foram anos de inovações, publicações de revistas e jornais, registros de histórias e fatos. Para os três filhos e nove netos passou a paixão pelo jornalismo, na gráfica consegue ainda alimentar seus desejos com a publicação dos livros sobre a cidade.

“Tem que ter amor, persistência e fazer as coisas da melhor maneira possível. Assim fiz a minha vida pessoal e profissional. Tenho muito pra fazer e ainda tenho muito para contar sobre a história de Poços”, ensina a nós o jornalista formado pela persistência.

Em meio a tantos registros, tanta história e tanto amor, a conclusão é que Poços ainda têm muita história para ser contata. Décio já fez grande parte desse trabalho e continuará fazendo.

*texto Bruna Santine

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