RIO HELP
“O Rio? paraíso para poucos” – um carioca, morador de “comunidade”.
Há 42 anos, após navegar o rio São Francisco de vapor, fixei-me no no Rio – morro de Santa Teresa, aluguel então acessível a jornalistas de classe média, como os amigos Luís Turiba/Lúcia Leão, Joyce Araújo e Lúcia Murat.
Temor das sete favelas? “O ‘pessoal’ sabe quem é morador e não o assalta”, a gente se gabava. Garotos pobres grimpavam pelo bondinho. A Petrobrás, no sopé do morro, era a joia da vaca estatal. Na decadente Lapa, à luz do sol tropical, endeusada pelo cancioneiro de Chico e Caetano, o “meu guri” vendia cigarros de maconha em taboleiros.
Maior, mais antiga e hegemônica cultura urbana brasileira, o Rio era o Brasil. As casas na rua onde nasceu meu primeiro filho foram contemporâneas de Machado de Assis. Mas a escassez de empregos era visível. Começava uma onda nova de assaltos. Espantoso o hotel Nacional, símbolo fumée do Brasil Grande da ditadura; ao fundo a já enorme favela da Rocinha.
O esvaziamento começou com a mudança da Capital. Também migrei para a sucursal do JB em Brasília. Simonsen – czar da economia – disse-me um dia: uma saída para o Rio seria transformar-se em off shore financeira internacional. Virou foi rota do tráfico internacional. O dinheiro novo da cocaína armou pesado o “meu guri”, já bandido escolado.
O Rio encena outra “ópera do malandro”, peça em crescendo desde 1960. Favelas conurbando-se. Desestruturação das instituições de segurança. Territórios disputados entre bandidos-milicianos e os puro-sangue. A corrupção lulopetista detonou a Petrobrás, um dos carros-chefes da economia local. Recessão e desemprego catapultaram as contradições urbanas, pois nem só do tráfico de drogas vive a imensa população excluída. Governos populistas (Chagas Freitas, Brizola) e sistemicamente corruptos (Sérgio Cabral & Cia), mexicanizaram a tragédia de Marielle.
José Roberto da Silva
Jornalista e Escritor .
20 março 2000 e 18.