Sobrecarga de tarefas ainda é o principal desafio ao empreendedorismo feminino
As mulheres permanecem em busca de criar o seu próprio negócio, como forma de alavancar a renda e se tornarem mais independentes. No entanto, manter o negócio no médio e longo prazos é um grande desafio para elas. Essa dificuldade pode ser explicada por uma série de fatores. Uma pesquisa realizada pelo Sebrae Minas em fevereiro deste ano revelou que a sobrecarga de tarefas domésticas continua sendo muito mais sentida pelas mulheres.
Segundo a pesquisa Mulheres Empreendedoras, que ouviu 1.213 entrevistados no estado, 69% das empreendedoras afirmam ser a principal pessoa responsável pelo cuidado da casa, enquanto entre os homens o percentual cai para 31%.
Além disso, quando questionadas se as mulheres têm mais dificuldades para ter um negócio de sucesso do que os homens, a maioria das pessoas entrevistadas (68%) afirmou que não, pois isso independe do gênero. Entretanto, as mulheres têm um olhar mais crítico sobre a questão: 48% percebem que as atividades domésticas e os cuidados com os filhos sobrecarregam as empreendedoras, enquanto os homens empreendedores não têm que assumir tantas funções, podendo se dedicar mais ao negócio. Apenas 24% dos homens compartilham dessa percepção.
Segundo o presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Minas, Marcelo de Souza e Silva, “isso demonstra que a múltipla jornada de trabalho é uma realidade não apenas para mulheres que trabalham em regime CLT, mas também para a maioria das empreendedoras. Administrar a casa e cuidar dos filhos foram papéis culturalmente atribuídos ao sexo feminino, e que permanecem até hoje. Essa multiplicidade de funções implica em uma sobrecarga e uma pressão emocional mais elevadas para as mulheres”, afirma.
De acordo com a pesquisa GEM, a maior pesquisa de empreendedorismo do mundo, em 2021 a taxa de empreendedores iniciais (negócios com até 3,5 anos) era de 54,4% para homens e 45,6% para as mulheres. Já no estágio estabelecido (acima de 3,5 anos), a taxa foi de 68,7% para os homens e de 31,3% para as mulheres. “Esses dados confirmam as dificuldades das mulheres para se firmarem no mercado, e nos desafia a pensar em soluções para apoiá-las em sua jornada empreendedora”, destaca o presidente.
Motivações para empreender
Outra pesquisa realizada pelo Sebrae Minas, em dezembro de 2022, com empreendedores em estágio inicial (até um ano de abertura) investigou as razões para a abertura de um negócio. Entre as mulheres, as principais motivações apontadas foram “ser dona do próprio negócio e ter autonomia e flexibilidade” (63%), “necessidade financeira” (45%) e “vocação e desejo de empreender” (42%); enquanto entre os homens, as mais citadas foram “ser dono do próprio negócio para obter autonomia e flexibilidade” (52%), “vocação e desejo de empreender” (49%) e “experiência na área em que abriu a empresa” (39%).
“A abertura de um negócio por necessidade financeira pode explicar a baixa taxa de conversão do estágio inicial para o estabelecido, uma vez que as mulheres podem buscar o empreendedorismo como algo provisório, em momentos de piora da renda familiar, mas deixam de empreender quando a situação melhora”, comenta Marcelo. A pesquisa Mulheres Empreendedoras em Minas Gerais mostrou, ainda, que 28% das empreendedoras têm outra ocupação como principal fonte de renda, enquanto entre os homens o percentual foi de 18%.
Desafios à frente do negócio
Um dos fatores que dificulta o sucesso dos negócios geridos por mulheres, segundo a pesquisa com empreendedores em estágio inicial, é a falta de planejamento por parte das empreendedoras: 6 em cada 10 não realiza algum estudo ou plano antes da abertura da empresa. Além disso, 57% das novas empreendedoras afirmam que têm baixo ou nenhum conhecimento sobre gestão de empresas. “Muitas vezes, ao abrir um negócio por necessidade, a complexidade da gestão é subestimada, o que pode gerar empecilhos para a empresa se firmar no mercado”, ressalta Marcelo Silva.
Segundo a pesquisa Mulheres Empreendedoras, quando perguntadas sobre as principais dificuldades na vivência empreendedora, a mais citada, por 45% delas, foi a gestão financeira do negócio. Em seguida, conciliar a vida empreendedora com a vida pessoal (35%) e, em terceiro lugar, o acesso a empréstimos em bancos (28%).
Estímulo ao empreendedorismo feminino
A pesquisa revelou, ainda, o poder da rede de apoio e influência entre as mulheres. Segundo os dados, mais da metade (53%) das empreendedoras tiveram contato com uma dona de negócio que serviu de inspiração ou influenciou no desejo de abrir o próprio negócio, e 40% têm uma rede de contato com outras mulheres empreendedoras. Além disso, 84% afirmaram que dariam preferência a contratar mulheres para a sua empresa. Outro dado de destaque é que apenas 10% das empreendedoras afirmam que em seus municípios existe alguma lei ou iniciativa para fomentar negócios liderados por mulheres.
Visando apoiar e estimular as mulheres a empreender, o Sebrae Minas oferece o programa Sebrae Delas. A iniciativa contempla diversas ações para fortalecer a cultura empreendedora entre as mulheres, aumentando a probabilidade de sucesso dos negócios liderados por elas. Por meio do programa, são oferecidas capacitações, oficinas, palestras e consultorias, estimulando o desenvolvimento de habilidades, competências, além da troca de conhecimentos e conexões.
O programa visa também a articulação de parcerias para o fortalecimento de redes que fomentam e apoiam o empreendedorismo feminino. O Sebrae Delas foi lançado em Minas Gerais, em 2019, e ao longo dos quatro anos de existência, já atendeu mais de 12 mil mulheres no estado, em diversas soluções, sendo muitas delas gratuitas. – Fonte Sebrae Minas