Serviço de Abordagem Social de Poços sensibiliza pessoas em situação de rua
Ângela acorda às 4 da manhã e se prepara para enfrentar as 12 horas de trabalho duro. De transporte coletivo, com direito a baldeação, ela é a primeira a chegar e já prepara o cafezinho, que dá ânimo para receber a colega de equipe, Rogéria, e partir para as ruas de Poços de Caldas, às 7 em ponto. As duas são agentes de atendimento emergencial e trabalham no Serviço de Abordagem Social da Prefeitura, responsável pelo atendimento inicial da população em situação de rua.
Ângela Maria Costa Damião é servidora pública desde 2016 e Rogéria Cristina Faria Braga desde 2015. Juntas, acompanhadas pelo motorista da famosa Kombi da Promoção Social, elas enfrentam uma jornada de 12x36horas na busca ativa e encaminhamento de pessoas em situação de rua na cidade.
“A gente entra às 7 da manhã e já começa a busca ativa nos pontos conhecidos onde a população de rua fica: nas praças e nas ruas principais do centro. Nosso trabalho é ofertar tudo o que o município tem para essa população, encaminhando para as casas de passagem ou para o atendimento no Centro POP. Além da busca ativa, a gente atende também a demanda da comunidade, que liga no 156 para avisar onde estão as pessoas em situação de rua”, explica Rogéria.
O serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. O atendimento ininterrupto é feito por 11 agentes, que se revezam nos plantões. No início da manhã, quando Ângela e Rogéria entram em ação, é hora de abordar os moradores de rua que não aceitaram os serviços oferecidos durante a noite, nem mesmo com as baixas temperaturas de Poços.
A maioria já é conhecida de longa data, além dos migrantes que vêm de outras cidades e estados. “Nosso objetivo é sensibilizar a pessoa em situação de rua para que ela aceite os serviços disponíveis na rede de atendimento. Mas, às vezes, o que nós oferecemos não é tão atrativo quanto o que a rua tem para oferecer”, alerta a agente Rogéria.
Estar nas ruas é uma condição relacionada principalmente a dependência química e a problemas mentais, entre outros fatores. Então, quando a pessoa encontra dinheiro para a manutenção do vício, alimentação e pequenos cuidados na própria rua, nem sempre ela aceita os serviços oferecidos pela Prefeitura.
A rede de atendimento, que tem como porta de entrada o Serviço de Abordagem Social, conta com o Centro POP, local onde é possível tomar banho, lavar roupas, se alimentar, participar de oficinas de convivência e passar por atendimento de psicólogos e assistentes sociais, além do encaminhamento aos abrigos, casas de passagem, albergues, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e Consultório na Rua. No caso de migrantes, é feito também o redirecionamento à cidade de origem.
Um dia de cada vez
Às vezes, a abordagem é tranquila. Às vezes, nem tanto. E, nesses casos, é
necessário contar com o apoio das forças de segurança. Às vezes, a pessoa em
situação de rua aceita acompanhar a equipe na primeira abordagem do dia. Às
vezes, só na última, depois de cinco ou seis tentativas.
“Esse serviço não é por acaso. Nós estamos aqui aprendendo a cada dia. A gente tem amor no que faz. Dizer um bom dia, perguntar como foi a noite, é disso que eles precisam naquele momento. Eles vivem um dia de cada vez. E nós também”, avalia Ângela.
Cientes de seu papel, as agentes trabalham no limite entre o entusiasmo de um usuário que aceitou os serviços e está em tratamento e a frustação do retorno às ruas. “A gente não pode criar expectativa em cima do usuário que está na rua. A gente faz o que pode naquele momento e, para nós, é isso que tem que bastar. É um dia de cada vez. Hoje, ele aceita vir comigo e fica bem na casa de passagem, mas amanhã ele pode estar aqui na praça fazendo tudo de novo”, relata Rogéria.
Rede de serviços
“Nosso objetivo é sempre fazer um trabalho para que a pessoa volte ao convívio
social. Para isso, realizamos as chamadas discussões de caso, que englobam toda
a rede de serviços para a criação de um plano de retirada da pessoa das ruas”,
explica o coordenador de Vigilância Socioassistencial da Secretaria Municipal
de Promoção Social, Nelson Maure.
Ele informa que, desde 2018, a equipe de abordagem social passou a participar das discussões de caso, facilitando o diagnóstico e os encaminhamentos para órgãos como Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Consultório na Rua, entre outros. “O olhar dos agentes de abordagem social é fundamental porque são eles que realmente conhecem as histórias de vida e o comportamento dessas pessoas nas ruas”, destaca.
Também a partir de 2018, a Secretaria de Promoção Social tem realizado capacitações para os agentes de atendimento emergencial. “O processo de formação continuada visa capacitar os agentes para que eles se sintam mais preparados e para que os atendimentos sejam cada vez mais efetivos”, ressalta a coordenadora da Proteção Social Especial de Média Complexidade, Caroline de Souza.
Responsabilidade de todos
Infelizmente, alguns tipos de caridade são os principais financiadores da
manutenção das pessoas nas ruas.
“A população que liga para avisar que o morador de rua está incomodando na praça, que está perturbando na porta do comércio é a mesma que dá a esmola, que oferece a marmita, um salgado na padaria. A população faz o giro inteiro em torno da pessoa em situação de rua. Ao mesmo tempo em que a cria na rua, também descarta. E quando a população já ofereceu tudo isso, sobra pouco para oferecermos. Por isso, a pessoa pode acabar preferindo ficar na rua”, enfatiza Rogéria.
Neste sentido, a Prefeitura realiza a campanha “‘Poços não dá esmolas. Oferece Atendimento!”, que visa não só conscientizar a comunidade a não dar esmola, mas também informar sobre os serviços oferecidos à população em situação de rua em Poços de Caldas.
A população pode ajudar não dando esmolas e acionando a equipe de abordagem, 24 horas por dia. Basta ligar 156 ou 3697-2645.
Fonte – Secom Prefeitura