Poços em Mármore e Bronze
Roberto Tereziano
Quem passa por Poços de Caldas não vai encontrar apenas beleza natural e arquitetônica como espetáculo. A cidade também é portadora de belíssimas obras de artes em suas praças e jardins.
As três mais históricas são acompanhadas de lendas que ficaram mais famosas que a historia, ou curiosidades ligadas ao grande escultor Giulio Starace. O monumento à saúde chamado “Minas Ao Brasil” inaugurado em 1928, esculpido como gênio vitelino de um monumento para Belo Horizonte chamado “A Civilização Mineira”, e, a “Fonte dos Amores, uma obra meio que inspirada no Beijo de Rodin,” e há uma terceira obra de Starace em Poços de Caldas que tem também uma historia curiosa. Outros discípulos de Fídias também estão presentes em Poços de Caldas. A suavidade de “Lá Prima Rosa” que se encontra no jardim de inverno do Pálace Hotel teve seu momento envolto de lendas. E o próprio busto dedicado a Pedro Sanches tem curiosidades que a população desconhece.
A primeira obra de arte feita para um logradouro de Poços de Caldas foi à escultura para a fonte dos amores. O local, no bosque do pé da serra já havia sido descoberto e nomeado por quatro rapazes que passara a fazer pic-nic no local e o batizaram com tal nome.
Em 1928 o então prefeito Pinheiro Chagas resolveu oficializar o local como ponto turístico, melhorar o acesso e colocar lá uma escultura.
Por intermédio do então governador de Minas, Antônio Carlos de Andrade, se contratou o escultor Giulio Starace para esculpir uma estátua que passou a fazer parte do bosque.
Como o centro da cidade estava sendo modernizado em tal período, com a completa reforma do Palace hotel, construção do Palace Cassino e Termas, encomendou o governador que se fizesse também um monumento para nossa principal praça da época que era a atual Praça Getúlio Vargas, onde está hoje o relógio floral. Exatamente no local do relógio, foi inaugurado o monumento Minas ao Brasil, popularmente conhecido como Peladão. Como as pessoas chegavam à cidade pelo tem da Mogiana, logo na chegada já recebiam as voas vindas.
Poucas são as pessoas que entendem o monumento. No memorial descritivo do próprio escultor, ele comenta que ficou procurando uma figura que bem simbolizasse o homem brasileiro e concluiu que seria um índio. Como á a possibilidade da região ter sido habitada por índios Cataguazes, ele esculpiu para Poços um índio simbolizando a saúde, no ponto mais alto do monumento.
Abaixo, um médico socorrendo uma paciente. Seria a medicina socorrendo a humanidade. Outras marcas fazem parte do projeto como cântaros jorrando água e símbolos do estado de Minas.
Para Belo horizonte ele usou o mesmo homem como modelo e esculpiu para a praça da estação um índio segurando o estandarte, que seria o marco de pioneirismo desbravador.
A lenda da qual se encarregou a cultura popular de que o autor deve que mudar a obra por causa da nudez masculina foi maior em Belo Horizonte e muitas vezes confundida como sendo em Poços de Caldas. Em um texto escrito para a internet o missivista
Humberto Werneck em seu blog trás uma crônica intitulada “Pegando um bronze em beagá”
“Causou celeuma também o nu masculino que desde 1930 se exibe no Monumento à Civilização Mineira, na mesma praça, bandeira desfraldada em punho. Encomendada ao escultor italiano Giulio Sarasse, a estátua já ia ser fundida em bronze em São Paulo quando o governador Antônio Carlos mandou ver se tudo estava nos conformes. Não estava, constatou o emissário, a quem genitália do musculoso anônimo pareceu inadmissível. O pobre Sarasse tentou defender a integridade anatômica de sua criatura, mas teve que entregar os pontos — e providenciais ventos da moral montanhesa fizeram tremular a bandeira, drapejando-a de modo que uma das pontas, jogada contra o baixo ventre, se encarregasse de ocultar a indecorosa prenda. A Civilização Mineira estava salva.”
Mas tudo não passou de lenda urbana. Antes de serem fundidas em bronze tais esculturas foram mostradas em tamanho muito menor, aprovada e ampliadas sem alterações, tanto a de Poços de Caldas como a de belo Horizonte.
Nos anos de 1940 a atual praça Dr. Pedro Sanches se tornou mais importante para Poços de Calda e se decidiu por mudar o monumento para a praça mais central. Assim o antigo coretinho foi transferido para o largo de São Benedito, se construiu o atual coreto e no local do antigo coretinho se implantou o monumento “Salus Et Vita” que tem como nome também
Minas ao Brasil, mas é mesmo conhecido como Peladão.
Em conversas que tivemos com familiares do escultor, residentes em Pinhal, SP, onde foi possível conhecer dezenas de outras obras de Starace, que ainda estavam em poder da família, nos foi informado que ele usara para tais esculturas um jovem parente, de porte atlético, como modelo.
Num grande deposito, dentre outras obras estava à escultura modelo da estátua da Fonte dos Amores. Uma poesia de beleza e sensualidade dedicada ao amor que nos faz lembrar outra obra de arte representada por um casal, “O Beijo” de Rodin. A estória Sheakespiriana, que se conhece hoje sobre ter existido um casal de amantes em um romance proibido que teria optado por dar cabo à vida naquele local é parte do imaginário mitológico.
Um dos quatro jovens que decidiram criar o local com o nome de Fonte dos Amores, João Andrade de Andrade, por precaução, deixou um textos contado como tudo aconteceu e alertou: Escrevo tal textos para que no futuro não venham historiadores de imaginário fértil contar historias de um romance de amor tipo Romeu e Julieta, mas foi o que aconteceu; o mito ficou maior que a verdade.
Giulio Starace preparou mais uma obra de arte para uma praça de Poços de Caldas. Um monumento chamado Rosas e espinhos.
A escultura em bronze foi apresentada ao governador que imediatamente encomendou que fosse feita em tamanho ampliado para uma de nossas praças mas em período de fim de governo Antônio Carlos, ano de crise financeira mundial, nos anos de 1930, Starace não se aventurou em se endividar para fazer o trabalho ampliado em bronze para não receber o pagamento e provavelmente seria o que ia ocorrer, pois parte dos primeiros trabalhos ele já havia recebido como pagamento títulos públicos, talvez nunca recebidos em respeito a amizade que nutria com o governador de Minas Gerais.
Uma pequena noticia de jornal foi responsável pela recuperação da historia e da obra de arte para Poços de Caldas.
Nos anos de 1990, existia na TV Poços um programa independente apresentado por Rowilson Alves, que contava semanalmente parte da historia de Poços de Caldas. Chamava-se Poços Especial. Certa vez ao descobrirmos a família do escultor em uma cidade vizinha o assunto se tornou pauta do programa.
Com o recorte do jornal antigo em mãos, Osvaldo Navarro perguntou da escultura que não existia em Poços de Caldas.
Os familiares abriram o amplo deposito das obras de Giulio Starace, mostraram a arte original e com toda simplicidade e desprendimento, disseram; Pode levar para vocês.
Assustada com a inesperada doação a equipe do programa colocou a escultura no carro e chegando em Poços de Caldas concluiu: A obra de arte pertence ao povo de nossa cidade.
Em entendimento com o prefeito da época, a estátua foi para o hall das Termas Antônio Carlos e todo o espaço ganhou o nome do escultor Italiano Giulio Starace. Para oficializar a homenagem foi realizada uma histórica e talvez a mais importante exposição de escultura já realizada em Poços de Caldas. Mais de 30 esculturas do mestre italiano foram expostas no hall das Termas por vários dias e contou com presenças de familiares num grande momento cultural de Poços de Caldas.
Depois, todo o remanescente de Giulio Starace foi cedido a uma banco paulista que se tornou guardião do valoroso patrimônio artístico e hoje para se conseguir uma nova exposição se faz necessário grande deposito monetário como seguro.
O grande escultor ligado a tradicional família paulistas e que tem grande parte de sua obra quase anônima por espaços de São Paulo. Merece já de a muito tempo, como o nosso Filizberti, uma bela monografia e um estudo e resgate da obra de valor inestimável
R.Tereziano – www.facebook.com/viverpocosdecaldas