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Antônio Salvador completa 60 anos de carreira dedicada à música

Acompanhando alguns dos maiores nomes da música brasileira, como Gonzaguinha, Carlos Poyares, Agnaldo Timóteo, Sílvio Brito, Cascatinha e Inhana, Belchior, Vanusa, Altemar Dutra, Agnaldo Rayol, Ângela Maria, Silvio Brito, entre outros, o músico poço-caldense Antônio Salvador completa 60 anos de carreira, comemorados neste domingo, dia 20 de setembro, dia do aniversário dele.

O primeiro contato com a música foi através de um violão velho que caiu de um caminhão de mudança, quando Salvador tinha 6 anos e dai por diante a música passou a fazer parte da vida dele – foto divulgação

Sua história musical funde-se a dos áureos conjuntos de baile contando, através da força da arte independente, um retrato de um tempo em que a boa música brasileira era feita essencialmente ao vivo.

Levar música onde o povo está e em um mergulho em universos diversos são fatores que fazem com que a “escola dos bailes” tenha formado profissionais tão relevantes, mas talvez pouco conhecidos para as novas gerações. Este é, sem dúvidas, o legado também de Antônio Salvador, que há anos tem se dedicado à arte, na mais genuína devoção aos saudosos conjuntos de baile.

A música entrou na vida dele como nestas histórias que, de tão poéticas, parecem só ter lugar no cinema. Foi aos cerca dos seis anos de idade, que um fato inusitado mudaria a vida daquele menino, filho de moradores da zona rural de Minas Gerais e que teria como herança familiar a lida como lavrador. Um caminhão de mudanças deixava cair um violão que foi recolhido por seu pai, um lenhador que sabia poucos acordes no instrumento, mas o levou para presentear o filho.

Autodidata, Salvador dominou o instrumento de forma tão rápida, que logo passou a se apresentar em circos-teatro e circos, que na década de 60 e 70, eram grandes reveladores de talentos. Assim, sob luzes titubeantes e lonas improvisadas, ele – pequeno como um inhambu-chororó – passou a tocar músicas como “Brasileirinho”, com o instrumento nas costas.

Do pássaro então assumiu a alcunha e passou a ser um dos astros das noites no interior. Era o pequeno Chororó e personificou o ofício musical tão logo entendeu que a arte podia lhe dar novas perspectivas. Tocava nos clubes de leitura de Poços incentivado, especialmente, pelo Padre Carlos Henrique Neto – grande educador e fundador da Escola Profissional Dom Bosco e sua atuação era freqüente na Rádio Cultura e nos principais eventos da região.

Em um período no qual artistas eram quase sempre estigmatizados como boêmios enfrentou todas as barreiras para seguir carreira. Para ampliar trabalhos, aprendeu também o teclado e o contrabaixo. A partir de então grandes nomes da música brasileira passaram a ser acompanhados por ele.

Entre consagrados músicos foi amigo e parceiro do flautista Carlos Poyares, presença constante em sua casa. Tocou com Gonzaguinha, Agnaldo Timóteo, Jessé, Carmen Silva, As melindrosas, Sérgio Reis e Perla. Além deles, Silvio Brito, Milionário e José Rico, Cascatinha e Inhana, Belchior, Vanusa, Zé Geraldo, Altemar Dutra, Agnaldo Rayol e o cantor italiano Luciano Bruno. Entre os famosos seresteiros que acompanhou estão nomes como o de Ângela Maria. Atuou ainda nas emissoras de televisão Band, sendo músico fixo do programa Rincão Brasileiro, além de ter sido músico da banda que acompanhava os calouros em diversos shows do Chacrinha.

Foi tocando que conheceu a esposa, Zelma Salvador, cantora e compositora que era apresentada nos clubes da região como “A voz de ouro”. Dona de um timbre muito elogiado e de larga extensão, Zelma logo se tornou a cantora do mesmo conjunto e, mais tarde a esposa em uma história de mais de 40 anos.

Os dois tiveram duas filhas e como seria impossível tirar delas a vivência musical, Jaqueline Salvador trabalha com musicalização infantil e Jesuane Salvador tornou-se cantora e jornalista, cujo trabalho impactou relevantes projetos.

Com um histórico totalmente independente e raro, quando não havia incentivos públicos, Antônio Salvador comemora com a família suas seis décadas de dedicação artística, a qual gerou para Poços de Caldas inúmeros frutos através de seu trabalho e deve seguir gerando em um legado muitas vezes anônimo, mas fundamental para a disseminação da cultura no Brasil. Para ele, neste momento singular na história do mundo, as políticas públicas relativas à cultura devem abarcar também os profissionais da “velha guarda” pois, o que é realizado hoje, sem dúvidas, teve suas bases em um tempo em que os conjuntos de baile é que davam o tom da boa música, influenciando milhares de músicos na nova safra.

“Nós não tínhamos a realidade atual, em que basta um celular e você tem tudo registrado. Não existia internet para se tirar uma cifra, era de ouvido, não existiam projetos do governo para uma contratação e as gravadoras tinham o poder sobre tudo, mas ainda assim a gente fazia música. O trabalho era na raça, ao vivo, sem maquiagem. Deste tempo, Poços de Caldas tem excelentes músicos que são hoje pouco reconhecidos. Toquei com muitos nomes importantes, em alguns dos mais consagrados programas da TV brasileira, viajei por esse Brasil e acho que tenho cumprido o ofício que Deus me deu. Hoje, parece que tudo começou ontem e só posso dizer que valeu a pena, pois o que sou, minha família, nossos frutos, tudo veio da música. São 60 anos na música e quando vejo meu neto, Juan, de dois anos, cantando afinadinho tenho a certeza de que a arte vem de um lugar muito especial e é algo que conecta todos nós. Digo sempre às minhas filhas, vocês podem ter toda a formação, mas se um dia isso não lhes valer, se algum dia vocês não tiverem nada além de si mesmas, parem numa esquina, abram a boca e cantem. Vocês têm dentro de vocês tudo o que precisam para recomeçar. Em tempos difíceis ou alegres, o que seria do mundo sem música? Sou feliz porque minha vida faz parte dessa história”, disse.

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