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Bombeiro de Poços que atuou em Brumadinho fala da experiência no resgate às vítimas

Um mês após o rompimento da barragem da Vale, na Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, o Poçoscom.com conversou com o Sargento Mateus, um dos bombeiros da 1ª Companhia Independente de Poços de Caldas, que integrou a primeira equipe de missão de resgate às vítimas.

Missão em Brumadinho foi um grande aprendizado para o sargento Mateus – foto Poçoscom.com/Roni Bispo

Há 10 anos no Corpo de Bombeiros, o sargento Mateus Rodrigues Wanderley conta que, já no dia do desastre, ele e toda equipe começaram a acompanhar as notícias e as ações empenhadas para o resgate das vítimas. Desde então, todos ficaram a postos, na expectativa da convocação para atuar na área do rompimento da barragem.

Todos os bombeiros de Poços se colocaram como voluntários, mas o comando das operações em Brumadinho deu prioridade para os militares que participaram do curso de Busca e Resgate, com especialização de padrão internacional, realizado no ano passado, no 9º Batalhão em Varginha.

O sargento Mateus estava entre os candidatos aptos para este tipo de resgate e a primeira equipe de Poços partiu  para o local do desastre uma semana após o rompimento, juntamente com outros militares do Sul de Minas.

Mesmo com a experiência de uma década na corporação e com a especialização adquirida recentemente, o sargento Mateus descreve como assustador o cenário que encontrou nas dependências da Mina Córrego do Feijão. Ele atuou na região na qual ficavam o refeitório e o estacionamento da Vale, local onde estava a maioria das vítimas.

“Nós acompanhávamos tudo por meio de fotos e vídeos, mas quando chegamos lá nos surpreendemos com o cenário de destruição. Era tudo lama, apenas lama. Nós tínhamos um mapa que dava a localização da estrutura, o prédio e o estacionamento, mas tudo estava coberto por lama”, relembra.

Mesmo sabendo das condições do desastre, o sargento tinha esperança de encontrar alguém com vida. Ele viveu um dilema entre a experiência profissional, que apontava para a impossibilidade de resgatar vítimas vivas naquele momento, e o sentimento humano de acreditar no impossível.

“As condições de salvamento em um acidente com lama são bem diferentes de quando ocorre um desabamento ou um terremoto, por exemplo. Nestes casos, existem bolsões de ar, o que proporciona à vítima uma chance de sobrevivência, por horas ou dias, dependendo da situação. Porém, no rompimento, a lama invade qualquer cavidade entre as estruturas, diminuindo drasticamente a possibilidade de alguém sobreviver”, explica o sargento.

Trabalhos foram concentrados na área do estacionamento e refeitório da mineração – foto Corpo de Bombeiros de Minas Gerais

Trabalho duro
Os militares tinham uma rotina bastante cansativa e tensa. Eles começavam o trabalho por volta das 5 da manhã. A equipe seguia de carro até onde funcionava a sede da mineração, já que havia condições de tráfego, e retornava para o alojamento às 19h. Apesar do cenário devastador, as condições de trabalho eram favoráveis devido à estrutura montada pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, que possibilitou toda a logística de resgate às vítimas.

Cães ao resgate

Além de várias equipes de Minas e de outros estados, o apoio dos cães farejadores foi fundamental para a localização de corpos ou de áreas que pudessem ser verificadas pelas equipes e maquinários. “Os cães ajudaram e estão ajudando muito. Apesar de pequenos, eles fazem um esforço absurdo devido à dificuldade de locomoção na lama. Boa parte do trabalho se deve a eles”, destacou o bombeiro.

Despedida digna

Para o sargento, os sete dias de missão foram um grande aprendizado profissional e, principalmente, pessoal. “Eu aprendi muito nestes sete dias. Quando chegávamos ao alojamento, no fim do dia, encontrávamos tudo arrumado, roupas limpas, alimentação. Tudo feito e organizado de forma voluntária pelos próprios moradores de Brumadinho, pelos parentes das vítimas do rompimento. Um carinho e um cuidado, como se eles quisessem nos retribuir pelo que estávamos fazendo. Por isso, a cada momento em que localizávamos um corpo ou um fragmento, era um alento, pois estávamos dando condições a uma família de enterrar, de fazer uma despedida digna a um ente querido que morreu ali.  Foi um aprendizado muito grande como profissional e maior ainda como ser humano, pois você está contribuindo para uma coisa muito maior, que é diminuir a dor de uma família”, conta o sargento, que continua a postos para retornar a Brumadinho, caso seja novamente convocado.

Durante a primeira missão, os bombeiros do Sul de Minas localizaram 18 corpos e dois fragmentos de corpos na área do refeitório e do estacionamento.

Um mês do acidente

Hoje, 30 dias após o rompimento, diversas homenagens às vítimas e às equipes de resgate foram realizadas em Brumadinho. As buscas continuam. O efetivo conta com 117 bombeiros, três cães farejadores, 44 máquinas e três helicópteros. Até o momento, já foram confirmadas 179 mortes e 133 pessoas continuam desaparecidas.

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