De mãe para filho

Recomecemos, filho, uma infinita aventura:
Eu lhe dando a chance
de ser, de participar, de crescer.
Você me dando a chance
de criar
de contribuir
de participar
de transmitir
de desafiar!
Seu pai, eu o escolhi…
mas, você é uma conseqüência
imprevisível
do que somos
e do que temos.
Você, eu não escolhi.
Aceitei, como a terra aceita a semente
e espero, sem interferência,
a sua transformação,
não no que sou,
ou no que gostaria de ser,
mas, a sua transformação
em tudo o que você possa
e queira ser.
Também não serei seu guia.
Mas, lhe mostrarei caminhos,
caminhos sempre novos
que levam a outros caminhos
que levem a outros caminhos
de silenciosa ternura
de discreta empatia.
Não o colocarei numa redoma
para satisfazer meus desejos
ou minhas frustrações.
Mas, o deixarei livremente
sobre os morros, praias e campos
para que descubra seus próprios horizontes.
Você fará suas próprias descobertas.
Suas experiências terão o gosto
de suas misturas.
Terão as cores que você conseguir,
embora eu possa lhe mostrar, por exemplo,
os tons do poente desta tarde.
Minhas amarguras, me livrarei delas
sem que pesem sobre você.
E as alegrias, eu as conquistarei independentemente
assim como você conquistará as suas.
E nos alegraremos juntos
por alegrias diferentes,
como veremos juntos
embora, cada qual, com seus próprios olhos.
Caminharemos, como amigos,
presentes, sem sermos absorventes.
Sua vida será para mim
como um campo cheio de flores,
onde eu andarei tranquila,
e delicadamente
para não magoar a sua intimidade
ou coibir suas intenções.
Teremos nossas fronteiras
nossos regimes
nossas leis
sem que nos façamos restrições
ou declaremos guerra
com a desculpa
de um salvar um ao outro.
Será uma linda aventura, filho!
Uma aventura cuja gratificação maior
é a nossa oportunidade de vivê-la!
E de dar continuidade à vida. (autoria desconhecida)