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Dia Nacional do Combate à Intolerância Religiosa

*Maria José de Souza  Tita (professora aposentada)

A história da humanidade se marca desde os seus primeiros tempos por enigmas que conduziram os humanos a indagações sobre tudo que lhes rodeava, incluindo a origem da sua própria existência. Assim com respostas ou sem respostas, com acertos ou erros, com as especulações e experiências, ele se desenvolveu e se construiu através das religiões e das ciências.

Maria José de Souza, a Tita é professora e pesquisadora – foto arquivo

No tempo e no espaço-território ocupado pelos homens, mulheres e outras performances de gênero se multiplicaram, se distanciaram e, a partir do continente africano, foram se formando em grupos diferentes e divergentes e acabaram se expressando através de símbolos (significantes): ícones, sons de instrumentos e da fala, cantos, danças, escrita, cujo significado oculto eram por estes revelados. Assim, estes significados (especulativos) revelados e utilizados pelos grupos construíram as diferentes culturas que se irradiam por todo o mundo humano. O resultado foi a construção de diversos povos, populações falando diferentes línguas e experimentando uma diversidade de referências simbólicas e diversos estágios de desenvolvimento.

Uma referência de significados, portanto, de símbolos expressos, que todos os povos em sua diversidade, ainda mantém, são os significantes religiosos de um significado não revelado. Esta questão já apareceu em referências desde os monumentos mais remotos, na Idade da Pedra, nos exemplos simbólicos das pinturas rupestres em todo o mundo.

Na procura de encontrar resposta para a vida, existência, o ser humano encontrou Deus, uma incógnita maior na sua infrutífera indagação e, para colocar termo na questão criou a religião. Religiões, pois elas se diferenciam e se mostram com destaques diferenciados em cada espaço-território e em cada grupo humano. Para cada povo para cada interpretação de Deus uma explicação, uma organização religiosa e uma original ritualização. Tem-se explicações diferenciadas, mas, todos estão na mesma barca navegando na busca para encontrar a causa e o efeito da vida – do possível criador. Todos, ainda com respostas parciais, apenas da fé, mas organizadoras e ordenadoras cada uma do seu mundo: grupo, coletivo ou povo.

Pergunto:  – Se é assim, por que o desentendimento, conflito, ódio, discriminação e agressividade contra o conceito e a prática da religião dos outros? Os conflitos aparecem quando um grupo se sobrepões sobre o outro, em revoluções, guerras, quando os povos tidos são obrigados a se curvarem aos pés dos vencedores quando tem a sua organização, ordem e cultura esfaceladas, destruídas, pelo invasor, o que aconteceu com o Brasil e com a África quando se instalou a colonialidade portuguesa. Hoje, a colonialidade ainda sobrevive na cristalização ideológica. Tenta-se, ou se almeja, uma nação democrática, com espaço-território para todos, pacífica ou harmoniosa. A maioria do povo brasileiro não almeja conflitos ou armas, existe o mito de que o nosso povo é do compartilhamento – solidário. Não estamos em guerra e nem sendo invadidos.

Assumindo o acima colocado, percebe-se que outros grupos religiosos estão se formando tendo como base, dizem, o cristianismo, mas por que eles são tão agressivos? Do que eles têm medo? Por que as suas principais vítimas são os adeptos das religiões afro-ameríndias. Se são cristãos, os afro-ameríndios também o são. Eles foram catequisados pelos religiosos europeus, só não aprenderam os seus rituais, o que fazem ao seu modo, e com a riqueza da sua cultura originária. Os agressivos devem aprender a ler, entender e colocar em prática os evangelhos de Jesus cuja máxima é o amor ao próximo.

O preambulo acima foi para lembrar ao leitor que hoje, 21 de janeiro foi instituído o Dia Mundial da Religião pela Assembleia Espiritual Nacional, em 1949 (Irã), a fim de promover o diálogo inter-religioso, a tolerância e o respeito. No Brasil, o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa foi criado, no Governo Lula, pela Lei Federal nº 11 635 de 27 de dezembro de 2007, celebrando o mesmo dia 21 de janeiro. Este dia é celebrado em homenagem a Ialorixá baiana Gildásia dos Santos Santos, Mãe Gilda, fundadora do terreiro de Candomblé Ilê AséAbassá. Esta respeitável sacerdotisa teve sua casa invadia por devotos da Igreja Universal do Reino de Deus, a casa foi depredada, o marido espancado e ela teve infarto fulminante quando leu no jornal do referido grupo o artigo com o título: “Macumbeiros e charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”, e trazia a sua foto com tarja nos olhos.

Segundo artigo de Lara Kinue, esse dia serve para alertar a população o perigo da discriminação e o preconceito religioso e para dar visibilidade à luta pelo respeito a todas as religiões. Em que se pode acrescentar que aqueles que discriminam religiões discrimina, também, pessoas: negras, judeus, orientais, ciganos e outras condições de gênero.Assim, eles se colocam cada vez mais distantes da proposta crística: amortização.

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