ENCONTRO DA GGN EM POÇOS DE CALDAS
O GGN E OS ANOS 60
Os Anos 60 são muito importantes na História de nosso País. Tal como os tempos atuais, são aqueles períodos da História em que há transformações importantes e acontecem mobilizações sociais que lhes correspondem. Para entender o que significou o Grupo Gente Nova – GGN é preciso abrir um pouco a cortina da História dos anos 50 e 60 do pós-Guerra Mundial e seus reflexos no Brasil que ingressa na modernidade. Demopcracia
Após o término da II Grande Guerra, tem início uma nova fase da economia mundial. Sai definitivamente de cena o Império Britânico e entram os Estados Unidos que lideraram as democracias liberais contra o nazi-fascismo. Cria-se a ONU e o Acordo de Bretton Woods reorganiza as finanças, um processo que marcará uma nova etapa de investimentos e formação de empresas multinacionais em bases tecnológicas mais avançadas. Essa onda de expansão econômica se soma aos antigos e poderosos trusts econômicos. Ao mesmo tempo, convivem de forma conflituosa o ideário liberal democrático e o velho “espírito” imperialista da Doutrina Monroe. O conflito que então se estabelece é também geo-político, cuja imagem mais conhecida é o Muro de Berlim.
Anos 60 e Guerra Fria são sinônimos.
Anos 60 e uma nova onda de inovações tecnológicas são indissociáveis. O boom econômico dos anos 50 nos EUA também chega ao Brasil – a televisão, o liquidificador, a geladeira. Bens de transformação e o acesso a eles começa a incorporar a uma economia urbana de consumo parcelas cada vez maiores da classe média. O mundo muda no pós-Guerra e o Brasil também.
A Igreja e as Forças Armadas, naqueles tempos, ainda eram as principais forças politicas aglutinadoras da sociedade civil, os “partidos” reais, na antiga análise de S. Oliveiros (Filosofia/USP). Simbolicamente, a criação de Brasilia marca simbolicamente que os novos tempos eram chegados. João XXIII decide aggiornar a arcaica Igreja de Roma, face ao inimigo socialista tão poderoso na União Soviética. A pílula anticoncepcional chega ao Brasil em meados desses anos 60. Da mesma forma, o rock-and-roll.
O mundo está mudando rapidamente. As guerras de libertação nacional
Logo mais as sete da noite acontece em Poços de Caldas um encontro histórico de estudantes. São os ex- alunos de Poços de Caldas, que faziam parte da GGN, grupo político/estudantil ativista dos movimentos de 1963 que antecederam ao golpe militar e pós golpe de 64. A GGN (Grupo Gente Nova) foi um movimento estudantil que reuniu, especialmente, jovens católicos em todo o Brasil que lutavam contra o golpe anunciado.
Não se trata, propriamente de um encontro político, mas sim, de uma confraternização entre amigos, muitos dos quais não se vêem a mais de 50 anos.
Não estando no Brasil para o evento o Jornalista Tomas Togni Tarquínio acaba de enviar de Paris, um belo texto para os participantes de logo mais a noite,
ABRAÇOS GEGENISTAS
Mensagem de TOMÁS TOGNI TARQUÍNIO
Paris, 10 de dezembro 2000.16
Prezadas e prezados Gegenistas,
Infelizmente estarei ausente. Pretendia ir ao Brasil dia 29 de novembro, mas tive que adiar a viagem. Deixo um abraço a cada um individualmente e felicito quem teve essa iniciativa. Mais do que felicitar, agradeço, pois, minhas circunvoluções cerebrais foram conduzidas a essa época, que para mim estava coberta pela pátina do tempo.
De repente, vejo a lista de nomes, lembro-me das pessoas, quase todas; de suas silhuetas jovens, imagens em movimento que voltaram à tona, de historinhas anódinas que ocorreram entre nós, muitas delas que talvez existam apenas em minha cabeça. Isso ocorreu há mais de meio século, dizem que é muito tempo, mas não me parece. Como diz o ditado “a vida deveria ser multada por excesso de velocidade”.
Graças a esse evento, comecei a me perguntar: quando o GGN começou e terminou? Nosso público alvo vinha de onde? Se assim poderíamos chamar as famílias do Serrote a quem dávamos assistência. Do campo, sem dúvida, mas apenas de nossa região? Além do nome, como o Serrote se transformou durante o tempo? Há pessoas que conheceram nosso trabalho e que todavia moram no Bairro São José? Houve ascensão social daquelas famílias e de seus descendentes? Seguramente, onde estão eles, geográfica, social e economicamente? Provavelmente não haverá resposta para essas indagações.
Aliás, qual era mesmo o objetivo do GGN? E o papel da religião católica na orientação do nosso grupo? Lembro-me do Irmão Rosa Branca, nosso querido José Gregório, mistura de bruxo medieval com sábio renascentista, separando as roupas usadas na nave da igrejinha de São José. Ele nos acompanhava todos os domingos. No meu caso particular, creio que essa ação de cunho social, além de me dar boa consciência, determinou em grande parte os caminhos e descaminhos que trilhei desde então. Principalmente no caso da trajetória que foi por mim traçada, mas não daquela outra que é obra do acaso, resultante do que nos cerca, que é exterior a nós mesmos: “Yo soy yo y mi circunstancia” dizia Ortega y Gasset.
Se adianto essas palavras, é porque creio que nossas existências adolescentes foram marcadas pela aspiração de criarmos uma sociedade feliz para todos. E nos deparamos mais tarde que se se trata de uma tarefa muito mais difícil do que imaginávamos. Mas, creio que todos nós, cada um no seu canto, fizemos o que estava ao nosso alcance.
Mudando de assunto, que tal formar uma galeria de fotos de nós todos, tanto da época, como atuais? Segundo o José Roberto, não há documentos ou registros escritos e fotográficos sobre o GGN, sobre as Semanas do Estudante, a UME, a JEC, a UEC. Quem sabe existam fotos em nossas casas. Inclusive das pessoas dos que já partiram. Mas voltando às fotos, encaminho algumas delas antigas e novas. Apenas gostaria de lembrar que vários membros do GGN foram perseguidos pela ditadura, como atestam duas fotos que envio.
