Jornalismo, o Poder de Agora
*Roberto Tereziano
O proposito primordial do jornalismo, além de informar, é ajudar a construir uma sociedade melhor. Claro que como em qualquer outra área, há controvérsias e mau uso da profissão. Há também incompreensão, perseguição e ameaças, mas á alegria e prazer do dever cumprido.
Estávamos nos primeiros meses da EPTV Sul de Minas. A fase era muito interessante para pautas de todos os assuntos, principalmente sociais, culturais ou investigativos. A vizinha cidade de Botelhos passava de um momento para outro por um surto de hepatite em um de seus distritos chamado São Gonçalinho. Aliás, foi lá que nasceu o poeta e farmacêutico Benedito Cirilo.
Antes de sugerir a pauta para a chefia e por não temos nenhum contato na cidade eu decidi primeiro ir ao local para fazer o levantamento in lócuo. Há certas reportagens que o preferencial é que a equipe chegue meio de surpresa, sem os preparos prévios que se usa em televisão, marcando horário com pessoas para receber a equipe e dar entrevistas, outras para virar personagens etc. Há risco, mas quando tudo dá certo rende boas matérias.
O distrito fica distante sete quilômetros da cidade. Fui de ônibus interestadual até Botelhos. Cheguei bem cedo e para minha surpresa, só teria outro ônibus até o distrito às quatro da tarde. Decidi-me por tentar uma carona. Fui para a estrada, mas nada de passar alguém para São Gonçalinho. Dia bonito, estrada rural atrativa, caímos na estrada a pé.
Caminhando e cantando surge uma carona de carroça até um pouco mais a frente. Durante o bate-papo fico sabendo que a água que abastecia o distrito passava por uma fazenda em uma criação de porcos de um figurão “intocável” da cidade. Talvez estivesse ali a contaminação da água.
Mais um trecho a pé até uma nova carona de trator. Novas informações que ajudavam na pauta. As pessoas estavam tomando remédios por conta própria temendo a hepatite.
Mais um trecho caminhando por dois quilômetros já estaria no distrito.
Pelo caminho encontrei embalagens de medicamentos contra amebas e outras ameaças vindas da água.
Quase chegando ao meu destino havia um lixão da cidade. Ali pude confirmar a automedicação. Eram muitas as embalagens de medicamentos para hepatite, o que só confirmava a automedicação.
Chegando ao distrito e falando com moradores soube que as aulas estavam suspensas. Falei com a diretora e com mais alguns dados a pauta estava garantida. Bendita hora que decidi por chegar ao distrito caminhando, caso contrário teria perdido informações importantes para a reportagem. Liguei para Varginha e confirmei chefe Neide a vinda da equipe de reportagem. Feitas as gravações e entrevistas no distrito e seguindo o curso d’água que abastecia o local até a fazenda a matéria foi concluída com uma entrevista com o chefe do setor de saúde que assume com a reportagem determinados compromissos e na mesma noite a reportagem foi para o ar. Ainda usei o levantamento para uma matéria que foi publicada em um jornal impresso de Poços.
Meses depois voltei ao distrito. Encontrei uma estação de tratamento d’água sendo construída e que logo foi inaugurada. Estava definitivamente resolvido o problema de São Gonçalinho.
Uma bela placa na nova estação estampava nomes de prefeito, vereadores, secretários etc.
Para o jornalismo sério resta sempre o anonimato, mas, a certeza de ter provocado compromisso e desencadeado solução que com certeza melhora a vida daquela comunidade.
No dia seguinte a equipe já está em outro ponto em busca de ajudar a resolver outro problema ou trazer informação, cultura, etc. O ontem para o jornalismo já é algo distante, pois o jornalismo acredita no poder do agora para melhorar o futuro.