Paciente que chamou técnica de enfermagem de “urubu preto” é condenada pela Justiça

No mês em que é celebrada a Consciência Negra no Brasil, integrantes da Rede de Promoção da Igualdade Racial começam a colher fruto de um trabalho de conscientização e combate contra o racismo em Poços de Caldas-MG. Uma das vítimas de injúria racial, acolhida pela Rede e pela Divisão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Étnica teve ganho de causa na Justiça após ser discriminada e sofrer injúria racial por uma paciente atendida por ela.
A paciente que chamou a técnica de enfermagem, Najila Passos da Silva, de 31 anos de “urubu preto” foi condenada pela Justiça em 1ª Instância por injúria racial e danos morais. A paciente terá de pagar R$ 6 mil pelos danos morais causados à técnica de enfermagem, que foi ofendida diante de outros pacientes no local de trabalho.
Na ação o magistrado argumentou: “Neste sentido, mesmo considerando o alegado estado de fragilidade e descompensação, a condição de saúde da requerida, embora lamentável, não lhe confere direito de ofender a requerente, não havendo justificativa plausível para a conduta. O dano moral é evidente, uma vez que a injúria afeta profundamente a pessoa e a moral de Najila, vez que atingiu sua honra em seu local de trabalho.
A injúria racial
A injúria racial acontece no dia 2 de março deste ano, no momento em que a paciente queria que Najila acelerasse o processo de aplicação de soro, pois a paciente queria ir para casa logo. “Ela falou várias e várias vezes, repetiu, falando que isso que eu estava na profissão errada. Foi muito triste. Foi muita humilhação. Eu sou preta sim, mas eu sou uma urubu preta que sempre cuidou dela, que levantei às 6h para dar toda a assistência e cuidado a ela. Eu sou uma urubu preta sim, que dava até remédio na boca dela, que auxiliava ela no banho e no final disso sou chamada de urubu preto”, lamentou Najila, que ficou muito abalada na época.
Na época o hospital em que a técnica de enfermagem trabalhava, apoio a vitima e repudiou e repudia qualquer tipo de discriminação.
Rede de Igualdade Social
Acolhida pela coordenadora da Divisão de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e Étnica, Nanci de Moraes e pela Rede Promoção da Igualdade Racial e Étnica, Najila fez um boletim de ocorrência e em seguida a Polícia Civil instaurou um inquérito policial para apurar o caso de injúria racial.
Homenagem
Em meio a toda esta situação de ofensa e injúria racial, preconceito e instabilidade emocional após ser humilhada e discriminada no momento em que exercia uma função que ama, além de amar o próximo, Najila foi surpreendida com mais uma ação de apoio e encorajamento.
Em maio deste ano ela foi homenageado pelo Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais (Coren-MG), durante o lançamento da campanha “Basta de Violência contra a Enfermagem”, evento realizado em Belo Horizonte.
Ao saber da condenação mesmo ainda que em 1ª instância, Najila se sentiu vitoriosa, não pelo fato da indenização e sim pelo fato de que sua voz foi ouvida, sua dor foi sentida e neste momento ela não se sente mais só diante uma população, em que muitos ainda são racistas e que acreditam que ainda podem ofender as pessoas por causa da cor da pele, do jeito que se veste, por causa de um corte de cabelo, de um cargo que ocupa ou simplesmente não ser de cor branca. “Eu fui chamada de urubu preto, é uma coisa que me comove, me machuca e me magoa demais. Em pleno século XXI, as pessoas ainda são racistas e isso é uma coisa que tem que acabar. Eu estudei para salvar vidas, estou preparada para tudo, mas não para ser ofendida no meu local de trabalho, na frente de pacientes e acompanhantes. Eu só quero que a justiça seja feita porque tudo isso dói. Eu mereço respeito”, enfatizou a técnica de Enfermagem.
A decisão ainda cabe recurso.





