Poços 146 Anos – Ainda Pedro Sanches de Lemos (4) Roberto Tereziano
Todos os escritores que escreveram sobre nossa cidade se referiram a um dos mais importantes nomes da historia de Poços de Caldas, Dr. Pedro Sanches de Lemos.
O próprio Coelho Netto o transforma num personagem em um de seus romances. Tal médico foi um dos baluartes da cidade quando o assunto é uso de águas medicinais que determinaram o início do povoado mas ele foi muito além de um grande médico. Nos últimos anos temos feito incursões pela vida de Pedro Sanches e encontrado documentos que cada vez mais impressionam o brilhantismo e entrega dela á Poços de Caldas. Basta dizer que ele em idade bastante avançada e pouco antes de seu falecimento ainda não media esforços para percorre as estancias balneares mais importantes do mundo em busca de conhecimentos aplicáveis no desenvolvimento de nossa cidade. Seu nome se tornou nacional e internacionalmente conhecido. Os principais jornais da época dedicavam grandes espaços ao médico mineiro. Até reis de países como Suécia e Noruega ou presidentes de outros países reconhecem dele a grande contribuição ao mundo científica. Certa vez em 1902 quando embarcava para a europa em busca de novos conhecimentos um dos principais jornais do Brasil, d’ O País, escrevera:
“Não sabemos se o povo da localidade lhe agradecerá o sacrifício.”
Quem parte do Rio para Caldas não precisa por na sua bagagem o livro que mais os deleitam:
N a biblioteca do Dr. Pedro Sanches encontra-se tudo que o espirito mais deseja, desde os velhos phiolósophos e os poetas de outros tempos até o s pensadores e lyricos actuais, ao apóstolos do nirvana e o pamphletários da anarchia, em brochuras ainda frescas dos prélos europeus.
Todos esses livros formam a legião dos companheiros gárrulos ou melancólicos, tremendos ou risonhos, espiritualizantes ou sinistros, do Dr. Pedro Sanches, nas longas noites de inverno no planalto sul mineiro, quando Caldas está deserta.
São esses amigos que ele depois nos oferece no verão, nas poucas horas que tiramos ao passeio nos morros, as expedições festivas que vão saudar a estouros de chapagne a grandeza, o esplendor da famosa cascata das antas.
Mas melhor do que folear esses volumes é conversar com o solitário estudioso, conhecer através de suas palavras nítidas o resumo, a doutrina, as originalidades que eles contem.
Desses amigos da imprensa, sempre por ele tão fidalgamente recebidos, partiu a ideia de lhe offerecer, hoje, um almoço no hotel Globo, aproveitando as poucas horas de que ele dispõe antes de embarcar para a Europa no paquete Atlantique.
A esta festa de corações gratos e de espeito felizes, por poderem de novo testemunhar ao Dr. Pedro Sanches de Lemos, o alto conceito em que tem o seu saber e o seu caracter, associam-se, prestando a honra de sua presença a esse almoço de amigos, alguns distinctos médicos desta capital, ligados por sympacthia e por apreço ao ilustre médico mineiro, Cuja viagem é ainda derivada do amor que elle vota a sua terra, de desejo que nutre de ver ainda transformada num alto abrigo de repouso vilegiatura e civilização.
Já de cabellos brancos, chefe de uma família que o adora, elle privou-se dos carinhos dos seus para percorrer as estancias hydro-minerais da Europa similares a de Poços, coligir mapas, desenhos, contratos, regulamentos, sanatórios, estatísticas commerciaes e clinicas, planos de cassinos e theatros, estudo de divertimentos de melhoramentos, tornando a primitiva povoação mineira ainda por calçar, em cuja praça central os animais pastam em socego, um logar atraente, elegante e culto, que um estrangeiro possa visitar sem vergonha para o Brasil.
Não sabemos se o povo da localidade lhe agradecerá o sacrifício. Ao médico eminente, ao erudito encantador, ao amigo dedicado as homenagens d’ O Paiz. 07/05/1902
Natural de São Gonçalo do Sapucaí,ele nasceu em 1857, filho de farmacêutico e de tradicional família mineira, não levou muito tempo para que o “Pedrinho” como era tratado por uma das tias e quem muito cedo já começou a guardar no diário informações e recortes de jornais sobre o sobrinho, apontava seu interesse para a medicina.
A faculdade no Rio de Janeiro chegou num piscar de olhos e com mérito. Pouco antes da fundação oficial de Poços de Caldas em 1870 o lugarejo inóspito e insípido foi a escolha do jovem médico.
Mário Mourão, que teve a vida toda ao lado do Dr. Sanches de Lemos escreve em seu livro:
“ Ele que poderia brilhar em qualquer lugar do mundo escolhe um velhacouto de bandidos e animais ferozes, foi morar numa fazenda.
As águas dos Poços, já conhecidas no século XVI. Mas é com a chegada definitiva de Pedro Sanches em 1871 que se começa a estuda-las e usá-las dentro de critérios médicos e científicos. O então Senador Godoy abriu as partas para o sonho de uma futura cidade.
Desapropriou, mandou demarcar, forçou doações e apoiou iniciativas.
Mandou técnicos e acreditou.
Num período em que os remédios sintéticos não existiam e nem se pensava em antibiótico os tratamentos com águas de Poços de Caldas não só criaram um nova área da medicina, a Crenoterapia mas, também passou a ser a esperança de cura para várias enfermidades. A cidade passa a ser referencia e indicação para os mais diversos tratamentos. As pessoas começam a se deslocar até de países vizinhos. E encontrar aqui a cura para seus males e uma região em grande desenvolvimento fizeram com que muitos dos visitantes acabassem ficando. Chegam também pessoas de grande cultura, Panccini, Maywald, Prado, Taulose, Mourão, Monteiro e tantos outros que com inteligência e forma de trabalho deram início ao romance de uma cidade. O encontro de cultura com a força e vontade dos nativos, Junqueira, Cobra, e anônimos negros, e ainda mais tarde italianos, todos regidos por Pedro Sanches que via em outros países rumos a seguir em Poços de Caldas só poderia resultar mesmo em uma cidade especial como ocorreu.