Poços e a Proclamação da Republica (Roberto Tereziano)
Corria célere o ano de 1889. Vivíamos no império brasileiro, sob a batuta de Dom Pedro Segundo, que, aliás, estivera em Poços de Caldas três anos antes para a inauguração da ferrovia.
A abolição da escravidão um ano antes havia agravado o descontentamento das classes poderosas que haviam perdido seus escravos, contra o imperador. Foi nesse clima que se deu a proclamação da republica que hoje completa 129 anos.
A população de Poços de Caldas, então com 17 anos, e que sempre se manteve na sua maioria, governista, tinha em seus lideres políticos grandes simpatizantes pelo sistema monárquico, tendo até mesmo o nosso recém-nomeado Barão do Campo Místico. um dos últimos barões do império.
15 de novembro de 1889, dia da proclamação da republica caiu num sábado e a cidade não deixou de promover uma grande festa cívica para comemorar a nova fase da política brasileira.
Os poucos republicanos de última hora, 15 no total, resolveram realizar uma comemoração publica montando um estandarte humano, no qual 21 moças estariam representando cada estado brasileiro. Naquele tempo o Brasil só tinha 21 estados.
Foi a primeira manifestação cívica de Poços de Caldas. Como a Câmara de vereadores funcionava em uma casinha improvisada que não tinha espaço para acomodar a populança que veio mesmo sem saber bem o que estava acontecendo, se montou do lado de fora uma improvisada pirâmide de três patamares onde as moças que representavam os estados ficaram antes de desfilar pelas ruas do lugarejo.
Dr. Oscavo Correa Neto era o presidente do conselho Municipal, houve discursos, anuncio da proibição dos jogos de azar, o que só aconteceu por lei federal em 1946, assim mesmo, os improvisados cassinos da cidade tiveram seus apetrechos apreendidos e para formar o novo governo municipal, muitos nomes de outras agremiações políticas foram aproveitados, até mesmo o recém-nomeado barão.
Para a surpresa dos republicados o povoado não tinha o número de moças suficientes foi então preciso que uma menina de seis anos, e outras de menos de dez anos, fizesse parte do estandarte.
Entre as escolhidas uma menina, Laura Brandão, filha do primeiro secretário da câmara de vereadores e também responsável pelo desenho da primitiva planta do lugarejo, em 1865, Maximiano Brandão. A menina Laura vai se tornar mais tarde, no Rio de Janeiro uma grande ativista política.
No estandarte também estava uma das mais belas moças do lugarejo, Clarinha Vieira, que de tão disputada entre os rapazes do lugar, terminou solteira.
No livro Síntese Histórica de Poços de Caldas, o autor Mário Mourão publica uma fotografia dela aos 78 anos e comenta: “essa senhora com lonquinquios traços de beleza…”.
Foi assim, há 129 anos que a republica chegou a Poços de Caldas e a população com roupas domingueiras foi às ruas comemorar com banda de musica e foguetório.