DiversosRoberto Tereziano

Revelações do Coronavírus

Já há alguns anos, participava de um evento sobre medicina ortomolecular cuja especialidade do palestrante era combate aos radicais livres.

Citando o médicoLinus Pauling, um dos pioneiros do assunto e, falando do seu método de eliminação dos resíduos que produzem o envelhecimento do organismo, Dr. Pauling aviava como parte do tratamento preventivo, megadoses diárias de vitamina C, Beta Caroteno, ômega três, entre outros.

Como se sabe, muitas das substâncias acima mencionadas, dentre elas a vitamina C, encontrada em frutas cítricas como laranja, limão, etc., são portadoras de tal vitamina e nosso organismo exige o consumo diário de pelo menos um grama dela, o excedente é expelido pelo organismo e produz uma espécie de varrição, ou seja, uma limpeza das diversas impurezas que produzem a degeneração das células, gerando os chamados radicais livres.

Para extrair da laranja a dose diária ideal  de um grama seria necessário consumir mais de trinta laranjas,(mais que meia caixa)  e o pai da medicina ortomolecular está aconselhando o consumo de  vinte gramas ao dia.    Depois entra o consumo de frutos do mar como salmão, ou outros onde se encontra bastante beta caroteno, ômega três, ou seja: Consumo diário de alimentos ricos em diversas e nutritivas substâncias, porém, de preços bem salgados para a realidade orçamentária brasileira aonde muitas pessoas não tem nem a cota diária mínima de ração para uma alimentação que os faça ultrapassar a linha da miséria, apontada pela Organização Mundial da Saúde.(O.M.S).

Perguntei, inocentemente, ao palestrante sobre como introduzir tal regime visivelmente caro na saúde pública, ao que ele respondeu: Sou formado em medicina há mais de quarenta anos. Tudo que eu aprendi desde meu tempo de faculdade é que fazer medicina pública é dar alguns medicamentos genéricos para reduzir dor e algumas vacinas, apenas isto.

 Muito tempo já se passou de tal palestra e muito já avançamos no fazer saúde pública no Brasil.

 Das ambulâncias que nada mais eram do que kombis caindo aos pedaços, que apenas serviam, e muito mal, para transportar os pacientes até os hospitais, temos agora a excelência do SAMU, verdadeiras unidades móveis de primeiros socorros. Raramente se perde uma vida pelo caminho, como era normal no passado. Copiamos, teoricamente, o modelo de saúde pública inglês, avaliado como um dos melhores sistema de saúde publica do mundo e criamos o SUS, (Sistema Único de Saúde) mas na prática o  sistema brasileiro não tem capacidade de atender com a mesma presteza e seriedade britânica.

Não nos faltam, grandes médicos nas mais diversas especialidades, grandes profissionais de enfermagem e grandes pesquisadores, porém tais brilhantes cientistas e profissionais mendigam apoio dos governantes para avançar em seus estudos e atualizações, são profissionais que poderiam garantir, de fato, um dos melhores serviços de saúde pública do mundo, porém, o que temos acompanhado é a saúde pública numa grande fila à espera de vaga na U.T.I. e, tal realidade convalescente prevalece há décadas.

Desde a promulgação da última constituição a qual assegurou em lei que a saúde era um direito de todos e dever do estado, que se aguarda pela regulamentação de vários pontos da lei maior, dentre eles, indicar fontes financeiras para se bancar o excedente do devido atendimento, e os hospitais públicos e santas casas clamam como que uma voz que grita no deserto, por um ajuste a ser aplicado em um defeito de nascença, corrigindo assim os valores pagos pelo SUS pelos serviços prestados, mas tal defasagem, entra e sai governos, alternam-se partidos e ideologias, nunca se aplicou, o que associado a má gestão, vícios de desonestidades e politicagem com a chamada saúde pública, perpetuam o estado lastimável da referida área.

 O caos do coronavírus foi preciso para reafirmar uma realidade exaustivamente propalada e conhecida, porém que poucos queriam assumir. Foram precisos irreveláveis números de óbitos efetivos ou pré-anunciados e milhões de enfermos infectados para que se assumissem, se é que o farão, a verdadeira face da saúde pública que de ponta de Carburaí ao Chuí, do Cabo dos Seixas até a serra de Contamanas, tem a mesma desmascarada face de terror, especialmente nas comunidades mais excluídas de direitos sociais. basta ver o perfil da maioria vitimada ou  morta e suas vergonhosas histórias para se conseguir uma vaga para internação, quando  não morrem antes nas filas de espera.

 Não importando se estados ricos ou pobres, desenvolvidos ou não, a precariedade mostra sua cara real, apenas mascarada há décadas por políticos e governantes desumanos e irresponsáveis, que ainda tentam mal disfarçar, amenizando o estado mórbido em que se encontra a saúde, digo, doença pública do Brasil.  Tivéssemos agora seriedade e harmonia nas três esferas governamentais idealizadas por Montesquieu, e tendo em mãos a radiografia com a qual o SUS se apresenta, e não com a desinfodemia com a qual o estado brasileiro tenta se esconder, desrespeitando a ciência e as evidências numéricas comprovadas, seria o momento oportuno de se fazer história e reescrever de uma vez por todas, a partir de agora, a verdadeira reestruturação da chamada saúde pública do Brasil, caso contrário ela morre por falta de respiradores, sem leitos, ou infectada pelo vírus da falta de vergonha e da corrupção, mas imaginar que isto possa acontecer a curto prazo é acreditar em mitos, ou ídolos com pés de barro, pois do contrário, ainda vale acreditar que fazer  a chamada saúde pública continuará sendo receitar uns analgésicos ou dar algumas vacinas, caso existam. Aparentemente, aos olhos incautos o coronavírus é democrático e contamina a todos indistintamente, pode até sê-lo, contudo, se transferirmos as vítimas para uma pirâmide etno-social observarmos uma crua realidade: Quanto maior for o poder aquisitivo dos contaminados mais alto será seu posto rumo ao ápice da pirâmide da vida: Basta observar a desigualdade numérica entre quem está hospitalizado e quem aguarda uma vaga nos hospitais de campanha. Enquanto que os mais pobres, moradores das periferias, negros, índios, moradores de rua, e por final, detentos ou moradores de abrigos de longa permanência, ou seja, asilos, etc, constituem a estrutura basilar da mesma, fazendo com que o covid-19 compra também outra meta em um holocausto velado que pode até interessar a muitos, Ou quem ocupa as valas comuns ou os requintados túmulos dos cemitérios.

 Falam que após a pandemia do Covid-19 viveremos um novo normal. O que chamam de normal acaba de ser revelado pelo coronavírus com a indigna aberração geral que hora se apresenta.

Quem sabe, poderíamos buscar um novo normal o mais próximo possível do ideal sonhado, mais digno, humano, e fraterno para todos.

Um comentário sobre “Revelações do Coronavírus

  • Muito triste. Faz mesmo refletir.
    Ótimo texto!

    Resposta

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