Colaboraboradores convidados

TREM ( V ) Ludgero Borges

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Naquela meia hora anterior no aguardo do  Trem  das Cinco,  entre os  esperantes, tem hoteleiros,   agentes de hospedagem,  misturados na Sala de Espera.  Como havíamos dito, na entrada do prédio,  a primeira boqueta,   a que vende passagens,  vende também Vale de Entrada para quem quiser esperar o Trem,  na plataforma   interna o que não só é elegante, como lucrativo aos hotéis que mantinham seus agentes na vanguarda.     Da parte  de fora da Estação,  na ponta da plataforma de bagagem que era bem cercada,   se acotovelando, dava para ver por uns minutos a entrada do comboio.  O   mirante deste ponto de vista,   estava sempre apinhada de curiosos,  com muitos  da primeira vez   e alguns saudosos,   como pudemos ouvir seus comentários após o espetáculo.      Alguns se despediam dos outros  porem,  aqueles que se iam mudos dava a impressão de que estavam satisfeitos e com ares de que voltariam  futuramente ou teriam coisas para contar na sua Terra.  A chegada do Trem das cinco sempre é uma atração.           

As pessoas que guardavam sempre o Trem e o acontecimento todo em sí,  parecia ser igual ao que aconteceu  quando da primeira  vez que a Mogiana deu  seus primeiros passos,  ao inaugurar o trecho de 34 quilômetros  entre Campinas   e Jaguary ,  hoje Jaguariuna  em 3 de maio de 1875.   Em Jaguary   foi preparada uma festa,  na chegada,  maior que a partida de Campinas,  pois tratava-se do 1º trecho de estrada de ferro da 1ª Companhia genuinamente brasileira,  de  grande porte  e que nos mais de 2.000 quilômetros que lhe estava destinada,     transportaria o progresso, a  riqueza entre  lugares distantes com povo estranhos.      A alegria em receber  tão valioso  prêmio para sua cidade e região justificava a tremenda acolhida desta chegada do Trem em Jaguary com seus habitantes se atropelando  para testemunhar a entrada.  Foi como a   Entrada Triunfal,   dos vencedores da guerra ao entrar  em Tebas, Capital  do Egito saudando o   Faraó pelo triunfo.  O leitor poderá ter um vislumbre desta passagem    (na Internet)  de   Aída ,  magistral ópera escrita por Giusepe Verdi ,  com históricos momentos da maçonaria,  inaugurada na Casa de Ópera do Cairo dia 24 de dezembro de 1871.      Tal representação da C.M. na  Estação de Jaguary   equivale naquele momento,   que  Giusepe Verdi   descreveu  na ópera  Aída.  O pátio de espera era o próprio solo em que estavam assentados os dormentes e trilhos  ladeados de autoridades ,  funcionários públicos,  peões, enfim o povo em especial  morrendo de curiosidade .         Calorosa salva  de palmas .          .   .           Pessoas mal continham o ímpeto de passar a mão  carinhosamente pelos carros ou precavidamente                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 naquele  Bicho brabo !     Pois agora   -seguindo a narração-,      o nosso leitor está plantado da Estação da C.M.  na Cidade Rosa, no momento que o Trem das cinco, aponta na   Chave de Entrada  guardado pelo manobrador que empunha uma bandeirinha verde.       A gente vê, quase que  só , um  embrolho  preto como carvãocom partículas   brilhantes , refletivas aqui e ali  ,  acima do que parecia ser um nariz,  em cima do qual    (que é a caixa de fumaça  da locomotiva) , tem uma grande lanterna apagada seguida por uma curta  chaminé  fumegante .   Por diversos furos parecia  soltar fios de vapor.  Na parte baixa   do  embrolho,  havia  um par de bigodes de vapor pra ninguém botar defeito,  que soprava terra,  areia,  folhas de árvores,  galhos seco,  galos,  galinhas e até cachorros que voavam pelos ares como que espirrados pelo Demônio      ( Daemõn   =  deus inverso)         Aquela bolota preta,  tremia parecendo que ia descarrilhar e fazia um barulho de ferragens que aumentava á medida que se aproximava igualmente pelos sons de ferros rangendo  ,  rodas com seus aros de aço se arrastando pelos trilhos de ídens.  Como chave de ouro,  um sino em cima  da caldeira, a cada  cambalhota que dava, parecia gritar;  …   –“ Saiam da frente seus frágeis  mortais  !   !…-  e o Trem embocava rente  a plataforma  á dentro.     

 Tudo isto que o leitor demorou 4 minutos para ler,  acontecia em       UM      minuto  se tanto !   Imagine  só,  o que teria acontecido nas Estações mogianenses  por esse Brasil á fora.

Que e estradas de terra,    estradas de ferro,  fluviais,  aéreas ,   transportam quase de tudo fisicamente, é inegável que moviam  sonhos nos devaneios de poetas, filósofos,  religiosos,  amorosos  e  pensadores  que  podem estar de corpo-presente num local enquanto sua alma   -ânima-   esteja velejando   n’outras plagas.  É o que acontece com o viajor que pela janela do carro mira paisagns

 A Estação de Poços de Caldas   é  destacável desde  1886 quando o ramal foi concluído e inaugurado pomposamente com a presença de D. Pedro II.  Desde então tem muito assunto a contar, o que faremos oportunamente,      de    como era difícil convencer pessoas  a usar os serviços da CM.   Como  por exemplo o fazendeiro Fulano de Tal   que despachou duzentas sacas de café de uma zona, para juntar as da sua fazenda, que depois seguiria para Santos;  Tudo ia indo muito bem até que a encomenda chegou á sua cidade, quando o fazendeiro estranhou porque a CM não entregou a carga na sua fazenda.    –Uái  !  Num tratemu de ponhá o café lá em casa ?   Foi preciso recorrer até    boletim policial !

Em se estando diante de uma ventana aberta que através dela acompanhamos  a paisagem que parece se movimentar,  o balanço rítmico,  a monotonia de sons repetitivos,  as vibrações que envolvem nosso  Sêr,  acabam  nos impressionando de que realmente estamos   á viajar,   lá fora   ,      montado  num                                                                                            cavalo com trote  ritmado,   se nos vier à mente a Cavalaria ligeira, belíssima peça criada pelo italiano Gioaquino Antonio Giácomo Rossini  ( 29-02-1792  – / 13-11-1868) no quadro da sua Guilerme Tell.    0u ainda,  se continuarmos  namorando a Mãe  Natureza,  dando asas a imaginação,  os blocos de nuvens que se deslocam velozes pelos céus,   são a  própria   Cavalgada das Walkyrias, comandadas pelo genial criador Wilhelm Richard Wagner   (* 22-03-1813 –/-13-02-1883´+)     ,  Se nos encontramos cansados,  fruto das lides do dia-a-dia  ou pelas preocupações com os problemas da vida,  nos apoiarmos ,  no encosto da poltrona do trem,  cerrarmos os olhos ao som  vindo  do comboio esforçando  para vencer sua senda ,  poderemos  por felicidade  ouvir   Carl Orff  no   trecho   0 Fortuna,   cantata que parece ter sida inspirada  no tráin  de ferro percorrendo    Carmina  Burana  

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