TREM ( Vlll ) LUDGERO BORGES
Engatada a locomotiva na série de carros estacionados na plataforma, ‘seo’ Manoel manobrador juntamente com o foguista, davam uma geral em todos os pontos dignos de revista e as 9 horas , este dava uma reforma no fogo como sendo a última antes da partida. É bom lembrar que a função do ajudante do maquinista -o foguista-, não se limita a produzir vapor, pois ele se movimenta quase que o tempo todo em comum acordo com o capitão do comboio porque a estrada de ferro percorre vales, subidas diversas, descidas idem, curvas no plano, em aclives, em declive, trilhos molhados, leito ondulados , verdadeiros tuneis de mata densa, enfim imperfeições á valer que a maioria delas requer manobras diferentes de instrumentos, compressão nos cilindros, rodas motoras breques, escapes de vapor e outros sendo necessário manuseios e muitos afetos ao foguista. Daí, até a queima de combustível na fornalha deverá estar ao gosto do ajudante.
O maquinista dá uma checada em regra no seu recinto de trabalho se acomoda no seu posto de trabalho e bota a cabeça na sua janela para espiar e esperar que o Chefe do Tráfego aponte lá no escritório com a liberação de partida, peça importantíssima, composta de um arco de meio metro de circunferência, revestido de couro cru, tendo no fechamento um treco de metal amarelo de um palmo de comprimento por uns 10 cm de corpo meio cilíndrico com dispositivos para prender bilhetes e no qual tem um despacho impresso que recebe a assinatura do Chefe da Estação autorizando a partida do P – 2 Faltam 20 Minutos para o Trem partir e por isto uma sonora campainha elétrica soa por 5 minutos enquanto o Chefe do Tráfego caminha do escritório até a locomotiva e entrega o tal arco de couro –também chamado de estaf e, ao maquinista , que o encaixa numa tomada própria no painel de instrumentação, cujo, afirma que aceitou a chave, porque um tênue e rápido jato de vapor espirra na sua face.
. Ao estridente som da campainha, a vida viva da plataforma toda se agita, os viajantes que ainda estavam fora do trem embarcam e todos lá dentro dele se ajeitam, até de forma pomposa para a a viagem como se fora uma aventura. Cumpre assinalar que um trem só pode ser liberado pela ordem escrita, liberada e perfumada pelo Chefe da Estação , para evitar um descuido de dois Trens, em sentido contrário, ocupar a mesma via, no mesmo horário entre dois pontos de parada. Esta segurança se repete um todas em Estações e ate mesmo nas menos importantes onde não é obrigatória a parada do Trem, que passa por ela na velocidade de 5 km/h sendo o arco –passe- trocado no ar entre o foguista e o portador da Estação , qual pelotiqueiros de circo de cavalinhos. Tem de tudo entre mogianos. Será bom lembrar que esta chave-passe alcunhada se Estafe é ´uma invenção patenteada pela CM que pode evitar um sinistro. A sua NÃO colocação na tomada própria da locomotiva, esta, se emperra se percorrer um ou dois mil metros Agora é 9 h 20 m e ouvimos um brevíssimo soar de campainha. Todos a bordo, menos o Chefe do Trem que devidamente enfatiotado no seu uniforme debruado de filetes dourados, tendo no cocuruto seu boné de cassemira azul, estofado, também enfeitado de costuras colorida , não faltando o título de CHEFE continuava na plataforma de fronte o carro ligado á máquina, com sua fronte voltada para o maquinista, num ar soberbo de comando maior, empunhando numa das mãos erguida uma bandeirinha verde enquanto a outra levava aos lábios um apito do tipo exército, enchendo a bochecha s e os pulmões de ar, descarregava este com tal força que o som do apito podia ser ouvido em todo Largo da Estação. Era o sinal de alerta que constava no regulamento interno da CM. O maquinista completava o estribilho dando um curto apito como ; —Entendido Dez segundos depois, o Chefe do Trem repetia a dose, erguendo a bandeira verde só que com a diferença; era mais bem caprichado ! enchia mais o pulmão qual sapo que queria se tornar boi, arregalava as butucas e assoprava com força o apito, porém fazendo uns floreios alegres até, mas também para ser ouvido aqui, ali e além. Era de chamar a atenção. 0 maquinista fazia um sorriso e não queria ficar por baixo. Agarrava firme a cordinha do apito como se esta fosse a batuta de um maestro cerrava os olhos e descarregava nos dedos, um linguajar de sons, quase impossíveis de se tirar de um instrumento que não tem escalas musical. Enfeitava o escape de vapor de tal modo comovente, que a plateia prendia o fôlego para melhor ouvir os acordes. Então, com prudência empunhava a ponta de uma alavanca de ferro fixada numa meia lua de ferro dentada que está ancorada na posição vertical, destravada a alavanquinha a auxiliar, empurrava-as para frente, até no máximo -posição horizontal – que é o ponto morto do motor à vapor e ocupava=se de outra parte da instrumentação onde aos poucos liberava a partida; o monstrengo gemia entre o resmungo de liberdade e o som rouco de excesso de energia que despontava produzindo um vigoroso tremor em toda a máquina. Na sua parte dianteira, rente ao solo, de cada lado, um escape violento de vapor branco chiando de ensurdecer, escapava inundando até parte da plataforma, ao mesmo tempo que pela chaminé num ronco grosso era expelido para o alto com um gole de fumaça de lenha e em seguida outro igual bem sincronizado com os demais ruídos do rinoceronte preto que emitia um mega som guturral; –vvrroon – vvrroon – vvroon — vvrroon … em compassos a princípio lentos , que depois iam se amiudando até alcançar a velocidade programada. O comboio ia se afastando da Estação num clima que parecia festivo mesclado com fisionomias tristes e alegres, de algumas faces brotando lágrimas talvez de adeus ou de saudades antecipadas. Nas janelas se via rostos sorridentes e alguns tristes e o mesmo acontecia com muitas pessoas que vieram para o bota-fora naquele começo de manhã. A Estação ficava deserta por uns l80 – 200 minutos porque estava para chegar o Trem Mixto que diariamente nascia em Cascavel – hoje Aguaí, – de onde partira as 5 horas. Também importante porém despretensioso em relação ao P – 1 por ter carros menores, menos mordomias e até mais demorado, pois em algumas estações ficavam mais tempo, porque os manobradores delas precisavam dos serviços da locomotiva para manusear seus vagões.