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20 de Novembro não é dia de comemoração, e sim de reflexão

*Por Lucia Vera de Lima

Presidente do Centro Cultural Afro Brasileiro Chico Rei

Zumbi lutou até a morte contra o sistema, contra a escravidão, que só terminou 193 anos após sua morte, dando assim inicio a falácia da abolição oficial da escravatura no Brasil. Desde 1888, com a promulgação da “Lei Áurea” as heranças da escravidão permanecem. Continuamos em organizações sociais, que continuamente lutam pela igualdade racial e pela inserção da população negra, na sociedade.

Dia da Consciência Negra é uma da para reflexão

Abro aqui um parêntese para falar de Dandara, que como muitas outras histórias adormecem sob o julgo da cegueira social. Dandara protagonista apagada ou superficialmente lembrada nos registros oficiais. Temos poucos registros, e muitas incertezas, que mesmo assim empoderam a nós mulheres negras no confronto, e na lutam que travamos até os dias atuais. Ela nos impulsiona na identificação, considerando as especificidades de mulheres negras, que enquanto as mulheres brancas buscavam equiparar direitos com os homens brancos, as negras carregavam o peso da escravatura, relegadas á posição de inferioridade, não somente a figura masculina, pois a mulher negra também estava em posição de subserviência perante a mulher não negra. Queremos reverberar, resgatar a posição de luta, Dandara se faz presente no sangue de toda negra, somos filhas das mulheres que se jogaram no precipício, em prol da de nosso povo. Dandara é mãe da resistência!

Em 1978 quando do surgimento do Movimento Negro Unificado, tem inicio uma serie de ações  para pensar a Consciência Negra, e lutar contra o racismo no Brasil. De um lado alguns poucos motivos para comemorar o dia Nacional da Consciência Negra, já por outro motivos não nos faltam para discutirmos o racismo, e promoção da igualdade racial, neste sentido o dia 20 de novembro, não deve ser de comemoração, mas de conscientização e reflexão.

Devido a evidente desigualdade social e exclusão da população negra, somado a isso o famigerado racismo, precisamos sim de atividades que conscientizem a população preta sobre qual é o papel deste povo, que mesmo sendo a maioria no país sofrem desigualdades, preconceitos e discriminação.

 “A cada três assassinatos no Brasil, dois são de jovens negros, com idades entre 15 e 24 anos, considerando ainda que a discriminação e o preconceito racial são fortes componentes desta realidade.

 Apesar de a população negra representar cerca de dois terços de todos os cidadãos economicamente ativos no Brasil, os negros permanecem relegados a serviços de base, com salários menores. Na média do país, cerca de 60% dos desempregados são negros.

 A população negra corresponde à maioria (78,9%) da parcela dos 10% de indivíduos com maiores chances de serem vítimas de assassinatos.

 Mulheres negras são as mais vitimadas nos casos de violência doméstica (58,68%), violência obstétrica (65,4%) e mortalidade materna (53,6%).

 Apenas 10% dos livros publicados de 1965 a 2014 foram escritos por autores negros. Além disso, 60% dos protagonistas são homens e 80% são brancos”.

Apesar de ainda serem poucas e tímidas, podemos apontar algumas conquistas como:

“Criação do Dia da Consciência Negra, (20 de novembro).

Lei 10.639/2013, que inclui a comemoração do Dia da Consciência Negra no calendário escolar, trazendo a discussão da história e da cultura afro-brasileiras, além da valorização dos africanos e afro-brasileiros nos currículos escolares da rede pública de ensino.

Lei 12.711/2012, que criou as cotas para ingresso em cursos superiores, aos poucos difundidas nas maiores universidades do país, sejam elas federais, estaduais ou até mesmo privadas.

Diversas ações afirmativas de combate à discriminação racial por meio de transformações culturais e políticas de representatividade.”

Quando abrimos a discussão, para desconstruir sofismas e preconceitos, temos que entender um movimento negro múltiplo. Porém com um único direcionamento, reparação histórica e políticas afirmativas que nos contemplem para além do papel.

Em particular entendo este dia como reconhecimento de toda luta ancestral para resgate e sobrevivência do nosso povo, dos nossos valores culturais, da nossa história. Tentar ainda que com olhares diferentes, olhar com os olhos dos que nos antecederam, buscando assim um sentido amplo para o dia 20 de novembro. E poder dizer com a força do meu povo VIVA ZUMBI, VIVA DANDARA!

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