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Agressão à Síria: Uma velha história que se repete

A Síria que, desde priscas eras, sempre foi palco de domínios de todos os impérios (egípcio, grego, romano) com escaramuças, invasões e subjugações de toda espécie, nunca pode experimentar a autodeterminação de nação livre, a não ser durante o apogeu das conquistas árabes, quando a milenar Damasco teve a fugaz opulência de ser verdadeira capital de todo o oriente médio.

Sobreveio o tirânico império otomano da Turquia, cujos radicais dirigentes muçulmanos promoviam tenaz perseguições contra os cristãos, a ponto de familiares destes se verem obrigados a partir para o exílio. Meu avô paterno, (José Jorge Badra) em plena adolescência, teve que dizer adeus aos pais e a sua querida cidade praiana deLatakia,a histórica Laodiceia, para buscar a liberdade no Brasil, casando-se na cidade goiana deGoiandira,foi chefe de numerosa família e prestou grandes serviços à sociedade local.

Dizimado o império otomano, no final da primeira grande guerra, veio a subjugação das potências ocidentais vitoriosas. O Reino Unido retalhou o oriente médio como quis. Coube à França o chamado mandato sobre a Síria, que logo se viu privada de toda à região territorial do Líbano.

A dominação francesa foi cruel e sanguinária para sufocar os anseios de independência. Damasco foi alvo de intenso bombardeio, com morte de milhares de civis, inclusive crianças.

Conquistada, a duras penas, sua independência, a nação Síria, depois de golpes e contragolpes militares e de uma passageira união com o Egito (republica Árabe Unida) veio a guerra com Israel (braço armado atômico dos estados Unidos na região) e teve as colinas de Golan tomadas pelos judeus, que nunca as desocuparam.

Na atualidade, um regime oligárquco da família Assad governa o país, cujo autoritarismo nada difere de outros dominantes na região, sobretudo na Arábia Saudita com sua eterna dinastia de reis, e na própria Turquia com seu presidencialismo ditatorial, mas somente Bachar é chamado de ditador pela mídia facciosa, sempre a serviço dos interesses imperialistas das potencias ocidentais.

Uma cruenta guerra civil, há bastante tempo, assola a Síria, onde os rebeldes da oposição armados pelas referidas potências tentam derrubar o governo apoiado pelo Iran e Rússia.

Tudo começou com a eclosão da fantasiosa primavera Árabe sob pretexto de uma luta pela implantação da democracia em alguns países.

A Síria vivia um período de estabilidade, através de um regime laico tolerante a todos os credos religiosos e gozava de todo o respeito das nações vizinhas. Descobriu-se, porem, que seu litoral é uma vasta fonte petrolífera;isto, juntamente com seus grandes reservatórios de gás gerou a desmedida ambição de explorar tais riquezas: de um lado os países liderados pelos Estados Unidos e de outro lado a Rússia.

Eis, portanto, o motivo fundamental de toda a interminável guerra civil, que estava chegando ao fim, com a vitória de um governo apoiado pela grande maioria do povo sírio. Aí então, sob pretexto de fulminar fabrica de armas químicas, que estariam sendo utilizadas contra os rebeldes, uma colisão liderada pelos Estados Unidos, com participação da França e Reino Unido, passoua bombardear os arredores de Damasco.

Tal pretexto foi utilizado no desencadeamento da segunda guerra, contra o Iraque, que se verificou, posteriormente, ser uma grande farsa que o governo sírio já praticamente vitorioso contra seus opositores tenha utilizado armas químicas.

Na verdade, o império anglo-americano mais uma vez está agindo em prol de seus interesses, juntamente com a França, uma terrível algoz da nação Síria no passado, para evitar a consumação do triunfo do governo numa guerra que já estava terminando.

É uma grande hipocrisia afirmar que as potências ocidentais estariam agindo por solidariedade humana para proteger a população civil e suas crianças.

Com grande razão a líder norte americana Helen White, ao afirmar no seu livro “O Grande Conflito ,”que os Estados Unidos são o símbolo bíblico da besta apocalíptica, que tem chifre de cordeiro, mas age como dragão, sobretudo agora sob a tirânica chefia de Trump.

Tal afirmativa parece muito autêntica, levando-se em conta o desnecessário bombardeio atômico no Japão, no final da segunda grande guerra, cujas consequências ainda perduram nos dias atuais, e outras atrocidades, sobretudo na criminosa guerra do Vietnam, onde houve um grande uso de armas químicas.

Por outro lado, não se pode justificar a participação russa no conflito, interessada que é na exploração do petróleo sírio, mas é de se levar em consideração que uma antiga amizade une os dois países desde o regime imperial dos czares, quando este retaliava o domínio turco que, auxiliado pelos ingleses, jamais permitiu o livre acesso da Rússia aos estreitos de Bósforo e Dardanelos- um velho sonho nunca realizado.

Otomano, sob comando da Turquia, a igreja católica ortodoxa russa mantinha escolas particulares na Síria para acolher os filhos de famílias cristãs discriminadas pelo regime otomano.

Um ilustre imigrante sírio Jad Salomão (meu tio avô por afinidade) foi inspetor dessas escolas. Teve que deixar o país, em face da perseguição turca, sobretudo após o fracasso russo na guerra de 1905 contra o Japão que resultou no fim do império russo e se constituiu em uma das causas da eclosão da revolução Bolchevique de 1917: o mais notório e discutível acontecimento do século passado.

O referido imigrante veio para o Estado de Goiás, onde exerceu o comércio de tecidos em Goiandira e, posteriormente, veio residir em Anápolis, onde, como industrial na atividade cerâmica, forneceu telhas para as primeiras construções de Goiânia, em seus primeiros tempos.

 

Vivaldo Jorge Araújo/visitando Poços

vivaldojorge@uol.com.br

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Vivaldo Jorge de Araújo, ex-professor de história e língua portuguesa do Lyceu de Goiânia é escritor, e procurador da justiça aposentado do ministério público do Estado de Goiânia

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