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De Tiradentes aos Ladrões de Hoje (4)

*Roberto Tereziano

Deixando de lado, duvidas e lendas sobre a inconfidência Mineira documentos oficiais não deixam dúvidas de que ela existiu.

Algumas partes da historia oficial, no entanto, se faz necessário que sejam desconstruídas. Na verdade não foi realmente um grande movimento revolucionário como se pensa, mas sim, a tentativa de um grupo reduzido de se livrar da mão pesada do fisco português tentando aplicar impostos exorbitantes.

Não se tratou de um movimento de massa popular como a inconfidência baiana, nem da ousadia de Felipe dos Santos que teve seu corpo amarrado e estraçalhado por quatro cavalos “brabos” por ter propagado ideias de independência do Brasil muito antes dos inconfidentes.

Os envolvidos diretamente no episódio de que envolveu Tiradentes eram empresários, ricos, altos funcionários públicos, mineradores de ouro e pedras preciosas, com interesses pessoais de pagar menos impostos para Portugal.

 O coronel Silvério dos Reis se envolveu com a trama na tentativa de ser perdoado de suas dívidas de impostos. Caso o governo português aplicasse o aumento dos tributos como havia anunciado, de todos os lucros vinte por cento, ou seja, a quinta parte de tudo teria que ir como impostos para Portugal.

Alguns dos inconfidentes eram mesmo grandes sonegadores, tendo escondido em casa, grande quantidade de ouro e outras pedras preciosas.

 Joaquim José da Silva Xavier era, antes de boticário, tropeiro e mineralogista, atividades bastante rentáveis, e fazia pequenas cirurgias. Ele só seguiu a carreira militar depois de ter entrado em atrito com o império por defender um jovem escravo que estava sendo torturado.

 Como punição ele perdeu sua tropa que era sua grande ferramenta de trabalho. Já mencionei em artigo anterior as perseguições por ser filho de pai brasileiro e mãe judia. Aliás, ele ainda foi mais abusado contra os costumes da época, se amasiou com a mãe do escravo salvo por ele, tendo inclusive uma filha, sua única descendente. Por outro lado, tal ação em defesa dos negros não foi um ato isolado. Ainda criança ele pede ao pai a liberdade de um escravo de família que tinha a mesma idade que ele, o que aconteceu de uma forma bem sutil: Seu pai doou o menino escravo á ele, cuja amizade e respeito ele conservou por toda vida.

 Através de Joaquim Maia, um brasileiro estudante de direito em Coimbra, eu m dos integrantes de um pacto que foi o inicio do movimento que se chamaria inconfidência, ele foi convidado a participar e se tornou uma espécie de relações publicas do grupo. Em tal período Tiradentes já era militar e em suas andanças se ligara a maçonaria em Salvador. A iniciação á ordem abriu portas para que ele contatasse outros “irmãos” para o movimento.

 Por ser ele o mais falante a propagar tais ideias passa a figurar como o líder que na verdade, seria o ouvidor Tomas Antônio Gonzaga que está adiando seu casamento com Marília para depois da independência. Como alto funcionário publico da coroa portuguesa, ouvidor do império, ele sempre se manteve discreto.

 Ele seria o primeiro presidente ou rei do Brasil. Juntamente com Alvarenga Peixoto já estavam preparando a primeira constituição da nova nação quando tudo foi delatado ao visconde de Barbacena e tudo foi desarticulado.

Tiradentes foi preso em dez de março de 1789 e os demais envolvidos cassados e detidos em Vila Rica e Rio de Janeiro. Mesmo depois de descoberto e preso Joaquim José ainda acreditou no sucesso do movimento, comportamento que mostrou sua grandeza. Enquanto outros participantes com nomes de peso passaram a se acusar uns aos outros, como fez Dr. Claudio Manoel da Costa, na tentativa de, como delação premiada, ter suas penas reduzidas.

Tiradentes chamou para si toda a responsabilidade não acusando os companheiros. Já o delator lucrou: Como português que era e oficial militar.  Aqui ficou como traidor, já para seu país, um patriota. Não só teve sua divida perdoada como passou a receber um valor mensal como premio, além de ter um filho batizado como afiliado do rei de Portugal. Mesmo agora, depois de tanto tempo, duzentos e trinta anos, delatar rende tratamento especial.

 Duzentos e trinta e dois anos da prisão do alferes e duzentos e vinte nove anos depois do enforcamento, a inconfidência ainda tem pontos a se refletir: a ameaça de se cobrar 20% de impostos antes de 1789, foi responsável pelo levante tido como o mais importante da história da independência do Brasil. Hoje se paga quase duas vezes mais impostos e se assiste silenciosamente mais abusos e desrespeitos que naqueles dias. Escreveu Cecilia Meireles: “Sobre o tempo vem mais tempo. Mandam sempre os que são grandes: é grandeza de ministros roubarem hoje como dantes.”

Há um belo poema do poeta   Dantas Motta, sobre a inconfidência Mineira:  Primeira epistola de Tiradentes aos ladrões Ricos.

Numa similitude à Divina Comédia de Dante Alighieri, o poeta apresenta em solilóquio fictício, como se Tiradentes revisitasse o Brasil nos dias de hoje. Em certo trecho do monólogo ele diz assustado: “Meu Deus! como se multiplicou o número de ladrões e corruptos nesse país! Quantos pescoços macios e das cordas tão necessitados”.

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