Inéditos de Medeiros e Albuquerque
José Joaquim Campos Medeiros e Albuquerque, (1867-1934) foi um dos grandes escritores e poetas brasileiros, sendo também um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, juntamente com Machado de Assis, e grande amigo de João do Rio, (Paulo Barreto) outro imortal escritor da academia de letras que frequentava Poços e até escreveu “Correspondências de Uma Estação de Cura” um livro inteiro sobre Poços de Caldas. Medeiros foi também contemporâneo e amigo de Coelho Neto, outro escritor que dedicou um livro inteiro, “Aguas da Juventa” romance que se passa em Poços de Caldas. Tendo Dr. Pedro Sanches de Lemos como personagem.
Não se tem registro da prováveis vindas do poeta Medeiros e Albuquerque a Poços de Caldas mas, mora ainda hoje aqui na cidade, seu neto, Flávio Medeiros e Albuquerque, artista em pintura de imagens sacras e também escritor
Flávio foi piloto oficial da aeronáutica e depois que se transferiu para a reserva escolheu Poços de Caldas para viver e aqui teve seus filhos, brilhantes advogados e, pessoas que gozam de grande circulo de amizade em Poços de Caldas.
Flávio Medeiros e Albuquerque sempre cultuou a memoria do avô e, mantem na sua estante alguns dos principais livros do grande escritor, além de poemas e sonetos antigos, ainda datilografados, de autoria de Medeiros e Albuquerque, escritor que passou para a história como ateu.
Eu que tive o privilégio de me tornar amigo de Flávio Medeiros e Albuquerque, e muitas vezes passamos horas lendo e discutindo a obra do seu avô.
Certa vez ele adquiriu em um sebo carioca um dos livros de Medeiros e Albuquerque, “Quando Eu era Vivo” livro escrito para ser publicado depois de sua morte. Qual não foi a surpresa ao encontrar datilografado dentro do livro, dois sonetos, praticamente, inéditos do avô.
Medeiros e Albuquerque nasceu em 1867 e aos 18 anos recebe de uma senhora, uma carta na qual ela se revelava apaixonada por ele.
O poeta responde a missiva elegantemente com um soneto.
“Respondendo a uma Carta”
É simplesmente um musculo mesquinho
O coração que existe no meu peito.
Por mesquinho, por frágil, por estreito-
Não tem espaço para o teu carinho
Outro senhora deve ser eleito:
Alma onde as ilusões procuram ninho.
Não eu, que não as tenho em meu caminho
Para enfeitar do teu noivado leito.
Eu poderia, eu poderia ainda,
Essa afeição que dizes ser infinda
Pagar co,a infâmia de cruel mentira.
Pra que? Tu, alma que de luz aflora
Na minha em sobra seu fulgor sumira…
Risca-me pois, do coração senhora.
Surpresa maior ocorreu com o segundo soneto, para o poeta tido como ateu. Seu soneto desconhecido chama-se “Oração” e não tem data.
Eu sei Senhor, que não mereço nada
Mas ponho em Suas mãos humildemente
Meu coração, que sofre , e resignada,
Minha alma aguarda, confiante e crente,
Quando eu chegar ao término da jornada
Em que a morte, de emboscada espera a gente,
Tem pena de minha alma amargurada,
Vê que eu também sou filho- e se clemente
Perdoa-me meu Deus se sou culpado
Se tanto crime fiz, tanto pecado,
Que hoje choro contrito. E dá Senhor
Que no coro glorioso, que Te exalta,
No céu profundo, não sinta a falta
Da minha voz cantando em Seu Louvor.
Flávio Medeiros e Albuquerque, já ultrapassado os noventa anos, embora que com a memória afetada pela degeneração do tempo, ainda vive em Poços de Caldas.
O soneto “Oração”, quase desconhecido, foi por mim enviado para a Academia Brasileira de Letras, e fez também parte de uma publicação recente que fala de três grandes poetas, tidos como ateus, que escrevem belíssimas conversões. Bocage, Medeiros e Albuquerque e, Nietzsche.