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Mãe de músico morto em Poços perdoa assassino do filho e se dedica à recuperação de detentos

A mãe do músico Yuri Antônio Gonçalves Vilas Boas encontrou no trabalho voluntário com detentos uma forma de perdoar o homem que matou o filho. Tia Isa, como é conhecida em Botelhos, onde vive a família do músico, morto em Poços de Caldas em maio de 2016, decidiu preencher o vazio deixado pela morte do filho mais velho com perdão e amor ao próximo, em vez de nutrir sentimentos de ódio, rancor e desejo de vingança pelo o que aconteceu com Yuri, aos 24 anos.

Isa encontrou no amor uma forma de manter viva uma parte do filho – foto acervo família

Há um ano e meio, ela participa do projeto “Remissão pela leitura”, desenvolvido pela PUC Minas, campus de Poços de Caldas, em unidades prisionais da região e que tem como objetivo ocupar o tempo ocioso do detento dentro do presídio, além de reduzir o tempo da pena.

Os encontros com os detentos de Botelhos têm sido uma oportunidade para que Elisa Helena Franco Gonçalves Vilas Boas, de 48 anos, possa ver a vida de outra maneira e, de certa forma, manter viva a memória do filho, que tinha preocupação com as questões sociais e defendia as minorias.

“Eu queria preencher o vazio deixado pela morte do meu filho, de certa forma manter vivo um pouco do que ele acreditava. Eu não sei tocar nenhum instrumento, não entendo de música, mas queria fazer algo a mais em vez de carregar o peso do ódio, de vingança pela morte dele. Não há dor mais pesada do que carregar um ódio pela vida toda”, alerta Isa.

Músico se procupava com questões sociais – foto acervo família

 

Ela se colocou no lugar da família do homem que atirou e entendeu o sofrimento dos dois lados. A mãe não desejaria a prisão do filho, caso ele tivesse atirado e matado alguém.

No trabalho voluntário Isa, que é professora e diretora de uma escola, conversa com os detentos e tenta orientá-los a adotar outro tipo de vida quando deixarem a prisão. “São pessoas que erraram e têm que pagar por isso, mas podem ter uma vida nova depois que saírem da prisão”, destacou.

O perdão

Durante o julgamento do assassino do filho, em abril deste ano, Isa se encontrou pela primeira vez com a família do autor do disparo, desde o dia do crime, em maio de 2016. Isa conta que queria muito conversar com os pais do réu e dividir a dor que tomava as duas famílias.

“Eu encontrei com a mãe do autor no corredor do Fórum e perguntei a ela se poderia abraçá-la. Ela disse que sim e foi um momento importante. Depois da sentença, o pai dele se virou e disse que ninguém saiu vitorioso, pois eu não tinha mais o meu filho e o filho deles havia sido condenado por homicídio. Disse a eles que tinha perdoado o filho deles e pedi que o ajudassem a superar e ter uma nova vida”, relata a professora.

Isa conta que quando recebeu a notícia da morte do filho mais velho, o mundo veio ao chão, uma mistura de sentimentos de dor e perda ao mesmo tempo, um grande vazio. Mas ela decidiu que não iria deixar o ódio tomar conta da vida dela, do marido e dos outros dois filhos. Com muito apoio, conversa e amor, a família tem conseguido superar a dor da partida de Yuri, que trazia alegria para a casa.

Um tiro, duas famílias transformadas

Desde a morte de Yuri, Elisa Vilas Boas, que já não gostava de armas, tem conscientizado amigos e a família sobre o porte de armas. Para ela, o uso não representa mais segurança. Ao contrário, muitas vezes acaba de maneira trágica, como aconteceu com o filho.

“Mesmo tendo porte de arma, o rapaz que atirou no meu filho ficou afastado do trabalho durante o tratamento de síndrome do pânico, portanto não tinha condições de usar uma arma e, por isso, eu acredito que a liberação do porte de armas tem que ser algo muito rigoroso para quem realmente tem condições físicas e psicológicas. Um único tiro dado naquela madrugada transformou as duas famílias. Uma carrega o peso de que o filho matou uma pessoa e a outra um vazio que está sendo preenchido com muito amor para superar esta tragédia”, finaliza.

O crime

O homicídio aconteceu na madrugada do dia 22 de maio de 2016. O músico estava na companhia do autor e de um amigo, em um apartamento no Jardim Quissisana. Os três foram até o local depois de terem saído de um bar. Sem motivo, o autor disparou e atingiu o abdômen de Yuri, que morreu no local. O autor sofria de Síndrome do Pânico.

O autor foi condenado a 2 anos e 2 meses de prisão e solto logo em seguida, já que estava preso desde a data do crime. O júri entendeu que o autor não teve a intenção de matar ou não sabia o que estava fazendo, pois havia retornado às atividades depois de um afastamento por 8 meses para o tratamento da Síndrome do Pânico. Portanto, a qualificação de homicídio doloso, quando há intenção de matar, passou para homicídio culposo.

2 thoughts on “Mãe de músico morto em Poços perdoa assassino do filho e se dedica à recuperação de detentos

  • Adriana

    Incrível a força e grandeza desta mãe. O Yuri, com certeza, se orgulha muito dela. A matéria ficou linda, Roni. Parabéns!

    Resposta
  • Alberto Volponi

    Uma bala disparada não tem como ser parada, assim com qualquer ato ou palavra que pode ferir, destruir ou matar !
    Mas esta mãe resolveu mostrar o que está na PALAVRA “ o amor cobre uma multidão de pecados” e pode amenizar sofrimentos e trazer luz e ate PAZ,
    Bela reportagem!

    Resposta

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