Colaboraboradores convidados

O local mais importante da família – A RESIDÊNCIA

                                                              Por Ernani Pasculli Filho*

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Certo dia, um cliente me contava de um fato ocorrido com ele. Foi numa data de fim de ano, Natal e Reveillon, típico destas festividades quando familiares se reúnem na casa de entes mais velhos. Comumente a casa fica cheia, virando dias e noites em comes, bebes, bate papo, jogos e outros meios de entreter, como motivos pra manter a família reunida em harmonia. Na hora de dormir todos ajeitados em colchonetes espalhados pela casa.

O fato ocorrido foi ele levantar de madrugada para urinar, ter ido até ao banheiro, fechou a porta e urinou no vaso. Como um despejo batendo na água da latrina, com forte barulho rompendo o silêncio da madrugada pelo resto da casa. Aliviado, ele deu descarga reforçando o barulho naturalmente e voltou para cama. No outro dia, seu avô, o dono da casa, lhe chamou numa conversa sozinho e lhe deu um esporo. Como podia ser tão atrapalhado ao ponto de ser desrespeitador, pois todo aquele barulho da urina estava sendo ouvido por todos na casa, meio sonolentos ou acordados. Daí meu avô me ensinou a urinar nas bordas interiores do vaso, para que a pressão da urina seja diminuída em silêncio antes de tocar na água.

Ouvindo aquelas falas, outro cliente a espera, comentou que aprendeu urinar nas bordas, pois além da urina tocar na água em silêncio, já aproveita para retirar aquelas cloacas de fezes que grudam na privada.

Entre os assuntos discorridos na fala do avô, foi relembrado o costume quando os banheiros eram construídos fora das casas. A estratégia era para o vaso ficar próximo da fossa, essa, distante do veio da água subterrâneo que abastecia a cisterna, isso para evitar o risco dos excrementos fecais contaminarem a água de uso. Daí o hábito de usar o pinico debaixo da cama, se acaso precisasse fazer alguma necessidade fisiológica de madrugada, não era preciso sair de casa.

Numa residência, onde se ampara a família, o berço de todas as instituições sociais, pode-se dizer a mais importante. Assim as coisas mais importantes passam a ser do interno para o externo, do menor para o maior. Como exemplo o corpo humano (desde as células até os grandes membros), uma casa, ou o funcionamento de uma empresa independente do porte. Os cômodos da casa, qual o mais importante? Seria o banheiro com três funções, hidráulico, elétrico e a rede esgoto. A cozinha com três funções, hidráulica elétrica e produção alimentícia? Penso nestes dois cômodos, pela necessidade de bem funcionar, se acaso algum dano, o reparo deve ser instantâneo, e a limpeza de rotina contínua.

Pra nossa cultura brasileira é perceptível nossas raízes caipira, observamos entes na ascendência familiar no processo migratório do êxodo rural. Em ondas progressistas dos grandes centros para o interior, desde as décadas de 1930 e 50, período da industrialização no Brasil. As ruas de terra, calçamento ao asfalto, daí a extinção do capacho na porta de casa, o fogão a gás, os postes de luz elétrica trazendo eletrodomésticos e várias tomadas pra uma casa. Água encanada pra dentro de casa, e o fim de lavar louça na bica d´água. O quintal de casa todo cimentado e o revestimento interno e externo, sem as ervas dos chazinhos caseiros para rebate o mal estar junto do calor humano.

Lembro quando casei, a casa estava aparelhada com os móveis básicos, o fogão, o gás, panelas e comida, etc. Mas, na hora de produzir a primeira arremessa de alimento, demos faltas dos acessórios que acoplam o fogão ao gás, como o registro, a mangueira e as braçadeiras. Suspendemos a primeira produção. Desde aquele momento passei a entender na prática do que dizem: Uma casa é uma empresa, e essa empresa precisa funcionar minuciosamente bem, pra não decretar falência.

*O autor é barbeiro e estudante de Ciências Sociais.

 

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