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As guerras contra as vacinas

*Roberto Tereziano

“Nenhuma inovação é plenamente aceita sem grande oposição”

A história da humanidade é cheia de exemplos reafirmando o conceito acima  citado. Aliás, a contestação  nos parece ser um tipo de comportamento inato. Já houve luta contra a paz, luta contra os cemitérios públicos, etc. No Brasil, em 1904 a primeira vítima de tal manifesto nefasto foi o sanitarista Osvaldo Cruz.

Charge da revista O Malho, de 29 de outubro de 1904

Houve nos Estados Unidos um cientista que publicou na antiguidade uma falsa pesquisa antivacinas. Depois ele próprio, Andrew Wakefield, lançou sua vacina. Em muitos países houve durante a gripe espanhola, manifestos contra as máscaras. O principal manifesto aconteceu nos Estados Unidos, a chamada luta antimáscaras que reuniu milhares de pessoas para queimar suas máscaras em publico. No mundo morreram 50 milhões. No Brasil 35 mil pessoas.

Aliás, o mundo científico é o mais visado para tal tipo de reação contrária a ciência. Só para citar alguns, vem-me à mente o casal Curie, descobridor dos efeitos da radiação em 1903, lutando contra tudo e contra todos para provar que tal energia existia. Imagine um brasileiro, mineiro, sem títulos de formação superior, querendo ensinar o homem a voar. Quando a “logica” induzia o raciocínio para o aeróstato, experimento que flutuava quase sozinho, usando gazes ou outras formas mais leves que o ar, ele, o Petit Santô, apresenta um projeto contrário a tudo e a todos, um aparelho mais pesado que o ar chamado 14 Bis.

 Ali nascia não só o aeroplano, mas também o Boeing que decola com dezenas de toneladas e corta o planeta voando, ou as aeronaves que são propulsionadas para fora do planeta, até ultrapassar a camada de maior teor gravitacional.

 Quando a humanidade estava induzida para acreditar no grande valor das guerras, houve grandes manifestos públicos, especialmente na Europa, sob o slogan “Morte aos pacifistas.” Não se acreditava no conceito de paz possível. Um jovem todo atrofiado pela guerra era herói, um sadio, covarde.

A vida ensina que muitas vezes temos que correr riscos para deixar que o inesperado aconteça e num jogo de equilíbrios custo/benefício o risco de pequenos efeitos colaterais é bem menor que o da infecção com efeitos graves ou irreversíveis ao organismo. Eis o momento enfrentado pelas vacinas contra a COVID-19.

 Quando surgiu a primeira vacina contra a varíola no século 18, doença que afligia a humanidade há muito tempo, não foi diferente. A reação de muitas pessoas com “teorias” contrárias ganhou as ruas e até o meio científico ficou dividido.

Basta olhar na história sobre  as guerras contra as vacinas. A erradicação ou controle de várias doenças por meio de tais antídotos foi uma luta árdua do meio científico contra os incrédulos chamados de “Os Antivacinas”. Com a Covid não está sendo diferente. Começou quando um médico chinês da cidade de Wuhan, Li Wenliang  alertou para o aparecimento do novo Coronavírus.

 A primeira reação foi radicalmente contra. Só  depois que a infecção saiu do controle foi que se assumiu a existência do vírus que começou a  epidemia que se tornou pandemia mundial.

Hoje, mais de um ano depois do aparecimento do Covid-19, e, com um número alarmante de mortos ou infectado mundo afora, a chegada de algumas vacinas que estão sendo, ainda testadas em caráter emergencial, diante do número de mortes diárias, desenvolvidas em tempo recorde, assusta muitas pessoas e não é pequeno o número de pessoas a se mostram temerosas em usá-las, e há ainda, mais um grande grupo que usa de maldade mesmo difundindo “teorias macabras” e nada científicas contra.  Tais “teorias” encontram mundo à fora, milhares de seguidores, mesmo em países tidos como esclarecidos e desenvolvidos.

 O mundo científico e a própria Organização Mundial da Saúde, (OMS) além de vencer os próprios desafios comuns diante do novo vírus, ainda tem que dar respostas às desinformações e as contrainformações, além de neutralizar o uso politico e tentar amenizar as desigualdades sociais escancaradas pelo novo Coronavírus. São tais distorções que passei a reuni-las no neologismo por mim criado “desinfodemia.” Resta também que a lucidez aponte para o crédito à ciência. Qualquer porcentagem de vida que se salve já será importante.

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