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Perereca ameaçada de extinção é encontrada em Poços

Uma espécie rara de perereca foi encontrada no Planalto de Poços por uma equipe de pesquisadores do IFSULDEMINAS – Campus Poços de Caldas. Trata-se da perereca da folhagem ou perereca-macaco.

Esta espécie é considerada criticamente ameaçada de extinção pela lista internacional de espécies ameaçadas – Foto Ederson Godoy

A descoberta foi feita pela professora e pesquisadora do IFSULDEMINAS – Campus Poços de Caldas, Dra. Mirele Reis dos Santos, e os alunos de iniciação científica, Daniel SilvaresBárbara MarcondesEderson GodoyJosé Eduardo Coutinho( Licenciatura em Ciências Biológicas)) e Roosevelt Heldt Junior (Tecnologia e Gestão Ambiental).

A perereca da folhagem ou perereca-macaco (Pithecopus ayeaye – LUTZ 1966) é  alvo do estudo de ecologia e conservação aprovado em 2019, financiado pela instituição britânica Rufford Foundation  IFSULDEMINAS – Campus Poços de Caldas.

O projeto intitulado “Ecologia e distribuição espacial da anurofauna do Morro do Ferro (Planalto de Poços de Caldas), com foco para Pithecopus ayeaye (ANURA, HYLIDAE)” contou com o suporte de laboratórios e equipamentos do Campus Poços de Caldas e o aporte financeiro de aproximadamente R$25.000,00 da Rufford Foundation, que foram gastos na compra de equipamentos e realização de trabalhos de campo.

Na primeira etapa (2019 – 2020), o projeto objetivou, principalmente, encontrar o sítio reprodutivo da espécie alvo, uma espécie de perereca com coloração verde vivo, tamanho reduzido e de ecologia desconhecida.

Esta espécie é considerada criticamente ameaçada de extinção pela lista internacional de espécies ameaçadas, pois sua distribuição geográfica é relativamente restrita e seus locais de ocorrência sofrem impactos ambientais e estão se tornando cada vez mais reduzidos. Dessa forma, os trabalhos noturnos de campo para registro da anurofauna se iniciaram em setembro de 2019 e se estenderam até abril/maio de 2020.

Após percorrer uma área de aproximadamente 500.000 m2, em quase 40 dias de amostragem, a equipe do projeto, enfim, encontrou a espécie, já no final da estação reprodutiva, em janeiro de 2020. A discente Bárbara Marcondes, que esteve presente em quase todas as campanhas de campo, disse ter se sentido eufórica e muito emocionada ao registrar a espécie tão esperada. Segundo ela, “a sensação foi única. Sabe quando uma criança ganha um presente? Seus olhos brilham e o coração se enche. Foi assim que me senti!”. De acordo com Daniel Silvares e José Eduardo Coutinho, “achamos maravilhoso encontrar a espécie, pois já estávamos há algum tempo fazendo o levantamento e registrando várias espécies. Mas, quando encontramos a Pithecopus ayeaye, tivemos a sensação de dever cumprido”. Para o aluno e fotógrafo da equipe, Ederson Godoy, “embora eu tenha a sensação de dever cumprido, fico preocupado por registrar a espécie em condição não ideal e ansioso para novos registros fotográficos da Pithecopus ayeaye”.

O projeto segue com novas pesquisas em 2020 e 2021 – foto Ederson Godoy

As buscas ativas ocorreram em trechos de riachos e ecossistemas próximos (poças temporárias, áreas abertas, bromélias e ocos de árvores). Apenas quatro adultos da espécie Pithecopus ayeaye foram registrados, sendo três machos e uma fêmea, além de girinos em algumas poças temporárias. A área onde a espécie foi encontrada constitui um fragmento remanescente de Campos Naturais de Altitude, uma feição específica e nativa de Mata Atlântica, e representou apenas 3% da área total amostrada ao longo da campanha 2019-2020. O discente Roosevelt, hoje já Gestor Ambiental graduado pelo Campus Poços de Caldas, acredita que “possam existir outros locais no Planalto de Poços de Caldas com potencial para a ocorrência da espécie, mesmo estas áreas estando sob desrespeito de normas de proteção ambiental”. A equipe também registrou, durante os trabalhos de campo, a presença de gado pastando livremente e maquinário para cortes de eucaliptos nos arredores dos sítios reprodutivos da espécie. “É muito triste percebermos que uma espécie tão vulnerável e tão linda esteja confinada em uma área tão reduzida e sob ameaças tão iminentes. Ficamos sem saber como agir para a sua proteção, já que a área é de domínio privado”, afirma Mireile Reis dos Santos.

Novos passos do projeto

A partir de agora, na segunda etapa do projeto (2020 – 2021), serão realizados estudos ecológicos da estrutura populacional da espécie. Nesta etapa, a equipe concentrará esforços apenas nos sítios reprodutivos, para analisar proporção sexual, tamanho populacional e demandas ecológicas. De acordo com a professora coordenadora do projeto, Mireile: “este trabalho é inédito e muito importante para o entendimento ecológico e conservação das populações desta espécie aqui no Planalto de Poços de Caldas. É possível que, devido ao processo de formação geológica da região, estes animais apresentem um pool genético único e diferente dos seus parentes próximos em ecótopos no Brasil”. Quanto às dificuldades de execução do trabalho, a pesquisadora afirma que “a equipe trabalhou de maneira muito afinada, responsável e comprometida”. Os discentes de iniciação científica do projeto, quatro do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas e um do curso de Tecnologia e Gestão Ambiental, “foram fundamentais para a realização do trabalho”, afirmou Mireile. “Também tivemos o apoio fundamental do herpetólogo Iberê Farina Machado, na identificação taxonômica das espécies”. Iberê Farina é Mestre e Doutor em Biologia, atua com projetos de zoologia e ecologia de anfíbios e presta serviços como consultor em herpetologia para diversas empresas particulares e governamentais. Participou como consultor no projeto de atualização sobre Estado de Conservação de Anfíbios Brasileiros, realizado entre as parcerias do PNUD/ONU e RAN/ICMBio. Atua na diretoria da ONG Instituto Boitatá, no Amphibian Specialist Group (ASG-Brasil) junto à IUCN e faz parte do Laboratório de Herpetologia e Comportamento Animal na Universidade Federal do Goiás (UFG), como pesquisador visitante onde realiza o Pós-Doutorado.

Embora o foco do projeto tenha sido a Pithecopus ayeaye, a equipe também registrou, na região, outras espécies endêmicas do Planalto de Poços de Caldas e também pouco conhecidas, como Bokermannohyla vulcaniae e Scinax caldarum 

A partir desse projeto, a professora e os alunos do IFSULDEMINAS – Campus Poços de Caldas já iniciaram ações de Educação Ambiental, para popularização do conhecimento sobre os anuros regionais. Maquetes dos animais em impressoras 3D e materiais gráficos e digitais de divulgação para escolas da região (figuras a seguir) estão sendo produzidos. Para mais informações sobre esses projetos e ações, acesse o site do Laboratório de Biodiversidade do Campus Poços de Caldas, atualmente coordenado pela professora Mireile Reis dos Santos: https://www.labdiversidade.bio.br/ -fonte Ascom/IFSULDEMINAS

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