Colaboraboradores convidados

TREM (3) Ludgero Borges

  • 1929-pocosEsta calha fica entre a Estação e o sopé do Morro da Mogiana com suas minas de água.   Como fizemos o leitor entrar para a plataforma e virar para a  esquerda vamos então  empurra-lo  para o lado direito agora , que continua sendo um local de espera,  porém  tendo logo de cara uma porta dupla de madeira e exclusiva para operários da  firma, que serve a uma ampla sala apinhada de mesas com suas cadeiras respectivas,  cada uma específica para determinada função  ,  tirante  duas pequenas torres de telegrafo  onde o  operador em geral trabalha em pé a não ser  em comunicação mais extensa.   O telefone ficava na mesa do Chefe de Trafego.  Uma curiosidade no código Morse;  os sinais,  tanto o receptivo como o enviado seguiam pelos fios telegráficos naturalmente e nas mesas de trabalho as  duas torrinhas   -chamo-as assim por não saber seus nomes ou se possuem um , mas na verdade trata-se de um tróço de pequenas peças metálicas,  engrenadas umas ás outras,  uns fios,  alavanquinhas com botões , um mostrador do tipo de relógio despertador com números e sinais  para leitura dinâmica e movida á eletricidade,  mas que na realidade  estas torrezinhas poderiam chamar simplesmente  unidade emissora e unidade receptora,   de  cujo centro tem um ponteiro longo,  movente  que quando pende para a esquerda pode configurar uma letra e se movendo para direita ,  digamos,  está indicando um  número ou algum código .   É um recurso do Morse pois se acompanha com os olhos e ouvido o  que outro operador está  falando  com gesto de mão, á dezenas de quilômetros distante.  Não fica aí a artimanha;  Engenhosos telegrafistas usam duas latinhas de tamanho diferentes,  vazias, estrategicamente dependuradas na torrinha nos dois lados do saltitante ponteiro que devem tocar de leve nelas, quando  manipulado.   Sendo a fonte sonora de tamanhos diferentes,  se ouvirá um som alto  –fino-   na fonte menor e um tom mais grave –baixo- se tangir a maior.  Desta maneira o cidadão poderá estar trabalhando outro setor ao mesmo tempo    ouvindo o que outro telegrafista esta transmitindo pelos impulsos elétricos,   que além de sonoro, pode ser também  visual,    de    dezenas de quilômetros distante.   Passando esta sala,  segue outra com portas de correr tanto para o lado interno do prédio como para o exposto do lado do Largo,  com o dobro de espaço,  tendo um balcão encimado de grade até o teto onde o despachante oficial faz anotações de toda a mercadoria    que passa por  ali,   despacha conhecimento do objetos.  Só com este documento  a mercadoria pode deixar o estabelecimento   Na  ultima haste desta construção geralmente tem um sino do tipo colocado nas máquinas, que é da obrigação do guarda noturno tangê-lo,     de hora em hora.  O sino da de poços de Caldas é um naco de trilho cuja sonoridade deve importunar até o Mefistófeles na sua casa.  Bem.  Falamos do prédio mor em si.  Agora vamos complementar  a unidade de Caldas,  como dizem os mogianos.  Partindo da plataforma interna que se situa  á   60 cm mais alta que o solo propriamente  dito, tem este plano entre ela e o início da subida do morro,  uns 50  metros  onde  se instala quatro chaves de mudanças de direção de linhas  destinadas á manobras,  lenheiro,  caixa d’água, vagões moradia,   -e hoje,  um suporte  sobre dois  eixos contendo roda s sobre um trilho formando grande aro, pode em 10 minutos ,  se tanto,  mudar a posição de uma locomotiva ou de um vagão.  Do emaranhado de trilhos,  um par deles ia direto á Casa de Máquinas  sendo que a linha rente a plataforma vai  direto para fora da cidade.

    0 Trem Expresso,  tecnicamente   conhecido  como  P 2  e  – P 1.    fora programado para chegar em Poços de Caldas as 17 horas   -ou coisa parecida  alcunhada  do trem das cinco–  e era  inegavelmente  um  espetáculo diário o ano todo,  como o Dia das Mães é 8 de maio.,  Dia da Pátria, 7 de setembro,   25 de dezembro é o Natal .   Faltando 10 minutos para as 17 h,  ele deveria estar fazendo a curva nas imediações da Chacrinha do   Benedito Francisco,   matadouro  do   Capitão Orlando,   Horto Florestal,  Campo de Golfe,  Posto Zootécnico  ,  Country Club  e ,   em diversos outros pontos neste Bairro São Geraldo.  O monstrengo mogiano dava curtos apitos e   na entrada da curva do Miglioranzzi caprichava mais na sonoridade,  mais ou menos neste momento é que a campainha estridente  alertava   no Largo da Estação .    Era praticamente deste ponto, que os passageiros  viam  os  primeiros traçados da Cidade das Rosas,   desde o sopé da Serra de São Domingos,  com  enormes casarões raleados pelos campos e macegas, mas com enormes  arias como Gama Cruz,  Serras Azuis,  São  Jorge,     Vila Flora,   Vila Cruz,  Estrada do Padre Mouthon   -hoje Champagnát -,     Areieiro,   Chacara do Palace-  Chácara dos Cravos,   Jardim do Ginasio,    Chácara dos Tognis,     Olaria do Nelo,   Campo dos Sapos,  isto do lado esquerdo do Expresso.  Do  lado direito via-se pouca coisa,  como campos da Mogiana,   Campo S,anto   -hoje Cemitério ,  poucas construções neste Bairro de São Geraldo

            Nesta altura do acontecimento, o Trem, que  estava além do  Cemitério, se aparelhava  a  Avenida Saudade e  vinha em decidida corrida rumo ao seu ponto final ,  depois de um apito  levemente floreado,  mas o suficiente para tocar dezenas e corações na plateia por diversos motivos embora , ainda,  da Estação  ,    não se avistasse a coisa .     A  essa altura,  á 200 metros da casa,  havia a Chave de Entrada, que  consistia de uma geringonça de ferro ,  no leito do chão,  dotado de dobradiça  e articulado de tal forma,  que ao tombar uma alavanca a qual tinha um contrapeso de ferro de uns 25 quilos  e ,  posicionando-a  ao lado contrário,   a linha de trilhos tornava-se  reta até os fundos da Estação que em geral  estava  assim  de gente,  cujas consciências relacionavam  estrada de ferro  &  progressos.     Na    Chave de Entrada   o manobrador de tráfego,  imponente,  conciso de seu dever,  descansando o corpo  sobre uma perna enquanto o outro pé orgulhosamente se apoiava  no contra- peso  e, segurando uma pequena bandeira verde sobre a alavanca de desvio apontada para a linha de trilhos,  sinal convencional de Passagem Livre,     permitindo-se    num ato de imponência,   cumprimentar   aquela avalanche barulhenta,  na   coisa da autoridade máxima,  a Locomotiva   P 2     !      Temos impressão de que a Companhia de Estrada de Ferro Mogiana,  todo o seu acervo e mais o corpo funcional e ligados a ele,  são todos    uma só família.   

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